"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, julho 15, 2013

O fator Mantega


Autor: 
Coluna Econômica
Desde o pós-Guerra, as políticas econômicas nas economias de mercado tem se pautado por duas orientações distintas (aliás, seguindo a mesma dicotomia que a marcou no século 19): o chamado liberalismo ou ortodoxia econômica, e o keynesianismo, ou heterodoxia.
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O primeiro modelo custou caro ao país. Implementado a partir da gestão Marcílio Marques Moreira, na Fazenda, consistia em trabalhar as despesas do Estado de maneira linear (contingenciando os gastos sem nenhuma preocupação com as consequências), uma política monetária extraordinariamente irresponsável (os mais altos juros do mundo, criando uma dívida pública monumental) e um câmbio em permanente desajuste. A cada crise externa respondia-se com um novo aperto fiscal, interrompendo obras pela metade, só para ostentar um superávit de caixa no final do ano.
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Apenas em 2008 rompeu-se com essa ortodoxia, quando a crise global obrigou o governo a se mexer. Passou-se a se valer, então das ferramentas keynesianas (de John Maynard Keynes, economista inglês que reformou o sistema monetário mundial), segundo o qual, quando a demanda privada é insuficiente para reativar a economia, cabe ao gasto público comandar o processo.
Bem sucedida em 2008, a política falhou a partir de 2011, fortalecendo o discurso dos chamados “mercadistas”.
Esta semana, no jornal “Valor”, dois dos mais expressivos representantes da escola keynesiana no Brasil – Luiz Fernando de Paula e André de Melo Modenesi -apressaram-se a afirmar, em um artigo esclarecedor, que a culpa não é de Keynes, mas de Guido Mantega.
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Por que razão, mesmo com a redução da taxa Selic e com a melhoria do câmbio, a economia não se recuperou?, indagam eles.
A fórmula preconizada por Keynes consiste em conferir previsibilidade à econômica, através da ação de governo e, através da redução da volatilidade, estimular o investimento privado. “Keynes e os economistas keynesianos defendem a transparência e não o segredo como uma condição para o sucesso da política econômica”, explicam eles.
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Na crise de 2008, apesar da ampla falta de sintonia com o Banco Central de Henrique Meirelles, a Fazenda logrou uma ação racional, coordenada e amplamente vitoriosa – ajudada, em parte, pela manutenção do crescimento chinês e das cotações elevadas de commodities.
Em 2011, quando percebeu que a economia patinava e que o quadro internacional se complicava, Mantega demorou a adotar medidas anticíclicas.
Quando resolveu agir, foi na direção errada. Comprometeu o superávit com uma série desconexa de isenções fiscais para consumo. Os empresários se encolheram, em parte devido aos receios advindos dos desdobramentos da crise internacional. Mas Mantega teve papel central ao maquiar os dados fiscais e sair desonerando setores indistintamente, sem um plano de voo.
Com o câmbio defasado, a insistência em aumentar o crédito resultou em aumento desmedido das importações. Quando o endividamento das famílias bateu no limite, o consumo interno começou a baquear.
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Haverá, agora, um longo trabalho de reconstrução, que passa pela volta da transparência fiscal, pelo fim das isenções indiscriminadas e pelo sucesso nas próximas rodadas de concessão pública.

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