luisnassif, dom, 14/07/2013 - 08:00
Autor:
Luis Nassif
Coluna Econômica
Desde o pós-Guerra, as políticas econômicas nas economias de mercado
tem se pautado por duas orientações distintas (aliás, seguindo a mesma
dicotomia que a marcou no século 19): o chamado liberalismo ou ortodoxia
econômica, e o keynesianismo, ou heterodoxia.
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O primeiro modelo custou caro ao país. Implementado a partir da
gestão Marcílio Marques Moreira, na Fazenda, consistia em trabalhar as
despesas do Estado de maneira linear (contingenciando os gastos sem
nenhuma preocupação com as consequências), uma política monetária
extraordinariamente irresponsável (os mais altos juros do mundo, criando
uma dívida pública monumental) e um câmbio em permanente desajuste. A
cada crise externa respondia-se com um novo aperto fiscal, interrompendo
obras pela metade, só para ostentar um superávit de caixa no final do
ano.
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Apenas em 2008 rompeu-se com essa ortodoxia, quando a crise global
obrigou o governo a se mexer. Passou-se a se valer, então das
ferramentas keynesianas (de John Maynard Keynes, economista inglês que
reformou o sistema monetário mundial), segundo o qual, quando a demanda
privada é insuficiente para reativar a economia, cabe ao gasto público
comandar o processo.
Bem sucedida em 2008, a política falhou a partir de 2011, fortalecendo o discurso dos chamados “mercadistas”.
Esta semana, no jornal “Valor”, dois dos mais expressivos
representantes da escola keynesiana no Brasil – Luiz Fernando de Paula e
André de Melo Modenesi -apressaram-se a afirmar, em um artigo
esclarecedor, que a culpa não é de Keynes, mas de Guido Mantega.
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Por que razão, mesmo com a redução da taxa Selic e com a melhoria do câmbio, a economia não se recuperou?, indagam eles.
A fórmula preconizada por Keynes consiste em conferir previsibilidade
à econômica, através da ação de governo e, através da redução da
volatilidade, estimular o investimento privado. “Keynes e os economistas
keynesianos defendem a transparência e não o segredo como uma condição
para o sucesso da política econômica”, explicam eles.
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Na crise de 2008, apesar da ampla falta de sintonia com o Banco
Central de Henrique Meirelles, a Fazenda logrou uma ação racional,
coordenada e amplamente vitoriosa – ajudada, em parte, pela manutenção
do crescimento chinês e das cotações elevadas de commodities.
Em 2011, quando percebeu que a economia patinava e que o quadro
internacional se complicava, Mantega demorou a adotar medidas
anticíclicas.
Quando resolveu agir, foi na direção errada. Comprometeu o superávit
com uma série desconexa de isenções fiscais para consumo. Os empresários
se encolheram, em parte devido aos receios advindos dos desdobramentos
da crise internacional. Mas Mantega teve papel central ao maquiar os
dados fiscais e sair desonerando setores indistintamente, sem um plano
de voo.
Com o câmbio defasado, a insistência em aumentar o crédito resultou
em aumento desmedido das importações. Quando o endividamento das
famílias bateu no limite, o consumo interno começou a baquear.
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Haverá, agora, um longo trabalho de reconstrução, que passa pela
volta da transparência fiscal, pelo fim das isenções indiscriminadas e
pelo sucesso nas próximas rodadas de concessão pública.
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