Sem investimento e no limite
Indústria opera a quase 100% da capacidade, o que traz risco de inflação alta
Não é somente a falta de infra-estrutura que pode impedir o país de crescer a taxas de 5% ao ano e sem inflação, como planeja o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar do ritmo lento da indústria este ano, diversos setores estão utilizando sua capacidade de produção acima da média da década, segundo levantamento realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Sem investimentos ou ganhos de produtividade, um crescimento mais acelerado da economia pode esbarrar no limite da oferta de alguns produtos e provocar a alta da inflação, diz o economista Estêvão Kopschitz, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea
- É no mínimo curioso que a indústria esteja crescendo pouco, cerca de 2% em 12 meses e menos de 3% no ano, e ao mesmo tempo esteja com utilização alta da capacidade. Parece que o crescimento, apesar de pequeno, é paulatino e vem ocupando a capacidade. Mas ainda é insuficiente para levar os empresários a investirem. E sem investimento, mesmo pequenas acelerações do crescimento podem ser suficientes para provocar o aumento da inflação - analisa Kopschitz.
Os grandes investimentos programados são voltados, principalmente, para as exportações. Setores mais focados no mercado interno aguardam a confirmação de que o consumo vai mesmo deslanchar.
- As empresas primeiro compram uma máquina nova, mudam algum método de trabalho, aumentam turnos, contratam mão-de-obra temporária e até terceirizam, antes de iniciar um investimento de maior porte, como a construção de uma fábrica ou a ampliação de uma já existente - explica o chefe do Departamento de Economia do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgard Pereira.
Crédito impulsiona construção civil
Por enquanto, as importações crescem em um ritmo mais acelerado que o da produção industrial e vêm suprindo parte do aumento do consumo no país. O crescimento médio das importações nas três primeiras semanas de novembro, frente ao mesmo mês do ano passado, chegou a 34%.
O setor de vestuário e calçados e o de produtos para a construção civil (minerais não-metálicos) já estão chegando perto dos 90% de utilização de capacidade, de acordo com o levantamento da FGV. No de calçados e confecções, segundo o economista Aloísio Campelo, a capacidade utilizada é alta porque houve poucos investimentos nos últimos anos. Mas indica recuperação do segmento, que vem enfrentando forte concorrência dos produtos importados.
- Neste momento estamos trabalhando a todo vapor, com mais de 90% da capacidade, mas não sei se essa taxa vai se manter. Se isso acontecer, num primeiro momento, vamos terceirizar parte da produção. Como tem importado entrando a torto e a direito, é difícil falar em aumentar capacidade - afirma um dos donos da Malharia Mena, Luis Felipe Bastos.
A Grendene, com capacidade para produzir 176 milhões de pares de sapatos por ano, está operando a plena capacidade. Com o consumo em alta no segundo semestre, a empresa optou por realocar parte de sua produção do Ceará para Teixeira de Freitas, no Sul da Bahia, onde será mais competitiva.
- Vamos produzir 9 milhões de pares por ano e economizar dois mil quilômetros de frete para atender ao mercado do Sudeste - informa a gerente de Relações com Investidores da Grendene, Doris Wilhelm.
A expansão do crédito e a queda dos juros também vêm impulsionando a construção civil. Segundo Campelo, esse setor vem se recuperando, com boas expectativas de aumento dos investimentos. O principal entrave é o saneamento, afirma Fernando Puga, assessor da Presidência do BNDES.
- A construção em massa de moradias populares esbarra na ampliação das redes de saneamento, que dependem de mudanças na legislação em tramitação no Congresso - diz Puga.
Siderurgia pretende dobrar produção
Já os setores exportadores, principalmente os de commodities como o aço, têm grandes investimentos programados, analisa o gerente de análises da Modal Asset, Eduardo Roche. A capacidade está acima da média da década, mas Campelo ressalta que uma característica desses setores é trabalhar a pleno vapor.
De acordo com levantamento feito pelo BNDES, a siderurgia planeja dobrar sua produção, de 36 milhões para 72 milhões de toneladas de aço até 2012, informa Puga. Um exemplo é a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que produz 5,6 milhões de toneladas de aço por ano e planeja triplicar sua capacidade. O projeto mais adiantado é o de instalação de uma usina em Itaguaí, no Rio, com capacidade para produzir 4,5 milhões de toneladas de aço em forma de placas, totalmente para atender ao mercado externo.
- Estamos operando a plena capacidade, ou seja, a 100% - diz o diretor de Relações com o Mercado da CSN, José Marcos Treiger.
Exportação esbarra nos transportes
O setor de papel e celulose também tem investimentos que elevarão a capacidade de 6,8 milhões para 8 milhões de toneladas por ano até 2010, segundo o BNDES. A Suzano Papel e Celulose, por exemplo, está investindo U$1,3 bilhão para triplicar, a partir do fim do ano que vem, a capacidade de produzir celulose - matéria-prima para fabricar papel - em sua fábrica em Mucuri, Sul da Bahia.
De acordo com o diretor do projeto, Hernesto Pousada, o problema é que os equipamentos chegam pelo Porto de Salvador, a 900 quilômetros da fábrica, e são transportados por rodovias em péssimo estado de conservação. A dificuldade para solucionar o problema de como levar o produto que será exportado até o porto também atrasou em cerca de um ano o início do projeto.
- Optamos por utilizar um porto privado, da Aracruz e da Cenibra, em Vitória - informa Pousada.
Indústria opera a quase 100% da capacidade, o que traz risco de inflação alta
Não é somente a falta de infra-estrutura que pode impedir o país de crescer a taxas de 5% ao ano e sem inflação, como planeja o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar do ritmo lento da indústria este ano, diversos setores estão utilizando sua capacidade de produção acima da média da década, segundo levantamento realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Sem investimentos ou ganhos de produtividade, um crescimento mais acelerado da economia pode esbarrar no limite da oferta de alguns produtos e provocar a alta da inflação, diz o economista Estêvão Kopschitz, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea
- É no mínimo curioso que a indústria esteja crescendo pouco, cerca de 2% em 12 meses e menos de 3% no ano, e ao mesmo tempo esteja com utilização alta da capacidade. Parece que o crescimento, apesar de pequeno, é paulatino e vem ocupando a capacidade. Mas ainda é insuficiente para levar os empresários a investirem. E sem investimento, mesmo pequenas acelerações do crescimento podem ser suficientes para provocar o aumento da inflação - analisa Kopschitz.
Os grandes investimentos programados são voltados, principalmente, para as exportações. Setores mais focados no mercado interno aguardam a confirmação de que o consumo vai mesmo deslanchar.
- As empresas primeiro compram uma máquina nova, mudam algum método de trabalho, aumentam turnos, contratam mão-de-obra temporária e até terceirizam, antes de iniciar um investimento de maior porte, como a construção de uma fábrica ou a ampliação de uma já existente - explica o chefe do Departamento de Economia do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgard Pereira.
Crédito impulsiona construção civil
Por enquanto, as importações crescem em um ritmo mais acelerado que o da produção industrial e vêm suprindo parte do aumento do consumo no país. O crescimento médio das importações nas três primeiras semanas de novembro, frente ao mesmo mês do ano passado, chegou a 34%.
O setor de vestuário e calçados e o de produtos para a construção civil (minerais não-metálicos) já estão chegando perto dos 90% de utilização de capacidade, de acordo com o levantamento da FGV. No de calçados e confecções, segundo o economista Aloísio Campelo, a capacidade utilizada é alta porque houve poucos investimentos nos últimos anos. Mas indica recuperação do segmento, que vem enfrentando forte concorrência dos produtos importados.
- Neste momento estamos trabalhando a todo vapor, com mais de 90% da capacidade, mas não sei se essa taxa vai se manter. Se isso acontecer, num primeiro momento, vamos terceirizar parte da produção. Como tem importado entrando a torto e a direito, é difícil falar em aumentar capacidade - afirma um dos donos da Malharia Mena, Luis Felipe Bastos.
A Grendene, com capacidade para produzir 176 milhões de pares de sapatos por ano, está operando a plena capacidade. Com o consumo em alta no segundo semestre, a empresa optou por realocar parte de sua produção do Ceará para Teixeira de Freitas, no Sul da Bahia, onde será mais competitiva.
- Vamos produzir 9 milhões de pares por ano e economizar dois mil quilômetros de frete para atender ao mercado do Sudeste - informa a gerente de Relações com Investidores da Grendene, Doris Wilhelm.
A expansão do crédito e a queda dos juros também vêm impulsionando a construção civil. Segundo Campelo, esse setor vem se recuperando, com boas expectativas de aumento dos investimentos. O principal entrave é o saneamento, afirma Fernando Puga, assessor da Presidência do BNDES.
- A construção em massa de moradias populares esbarra na ampliação das redes de saneamento, que dependem de mudanças na legislação em tramitação no Congresso - diz Puga.
Siderurgia pretende dobrar produção
Já os setores exportadores, principalmente os de commodities como o aço, têm grandes investimentos programados, analisa o gerente de análises da Modal Asset, Eduardo Roche. A capacidade está acima da média da década, mas Campelo ressalta que uma característica desses setores é trabalhar a pleno vapor.
De acordo com levantamento feito pelo BNDES, a siderurgia planeja dobrar sua produção, de 36 milhões para 72 milhões de toneladas de aço até 2012, informa Puga. Um exemplo é a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que produz 5,6 milhões de toneladas de aço por ano e planeja triplicar sua capacidade. O projeto mais adiantado é o de instalação de uma usina em Itaguaí, no Rio, com capacidade para produzir 4,5 milhões de toneladas de aço em forma de placas, totalmente para atender ao mercado externo.
- Estamos operando a plena capacidade, ou seja, a 100% - diz o diretor de Relações com o Mercado da CSN, José Marcos Treiger.
Exportação esbarra nos transportes
O setor de papel e celulose também tem investimentos que elevarão a capacidade de 6,8 milhões para 8 milhões de toneladas por ano até 2010, segundo o BNDES. A Suzano Papel e Celulose, por exemplo, está investindo U$1,3 bilhão para triplicar, a partir do fim do ano que vem, a capacidade de produzir celulose - matéria-prima para fabricar papel - em sua fábrica em Mucuri, Sul da Bahia.
De acordo com o diretor do projeto, Hernesto Pousada, o problema é que os equipamentos chegam pelo Porto de Salvador, a 900 quilômetros da fábrica, e são transportados por rodovias em péssimo estado de conservação. A dificuldade para solucionar o problema de como levar o produto que será exportado até o porto também atrasou em cerca de um ano o início do projeto.
- Optamos por utilizar um porto privado, da Aracruz e da Cenibra, em Vitória - informa Pousada.
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