EUA retomam treinamento de militares latino-americanos
Medida é contraponto à ascensão de esquerdistas e influência chinesa
Patrícia Campos Mello
Para se contrapor à ascensão de governos esquerdistas na América Latina e à crescente influência da China na região, os Estados Unidos estão retomando programas de treinamento para militares de países latino-americanos, entre eles o da notória Escola das Américas.
Sem muito alarde, o presidente George W. Bush revogou há pouco mais de um mês uma lei de 2003 que proibia a assistência militar e o treinamento de soldados de alguns países. Com o fim do veto, o Pentágono espera intensificar o treinamento de militares e a transferência de tecnologia de defesa para 11 países da América Latina, entre eles o Brasil.
Em 2003, os EUA baixaram a Lei de Proteção aos Militares Americanos, cujo principal objetivo é proteger militares e funcionários americanos de julgamentos do Tribunal Penal Internacional. O tribunal foi criado em 2002 e permite que qualquer país possa julgar uma pessoa acusada de cometer crime contra a humanidade, genocídio ou crime de guerra - mesmo que o acusado seja estrangeiro.
Os EUA foram um dos poucos países a não assinar o estatuto, ao lado de China, Israel, Líbia, Catar, Iraque e Iêmen. O governo americano argumentou, na época, que o tribunal poderia dar origem a julgamentos politizados de soldados e integrantes do governo americano.
Parte da Lei de Proteção aos Militares Americanos proíbe a assistência militar e treinamento de soldados de países que se recusassem a assinar um tratado bilateral de imunidade (Artigo 98) com os EUA, a não ser que eles pertencessem à OTAN. Pelo tratado de imunidade, esses países se comprometeriam a não processar cidadãos americanos no Tribunal Penal Internacional.
Como vários países se recusaram a assinar esse tratado bilateral, eles foram cortados dos programas de treinamento e assistência militar.
'Mas a lei de 2003 produziu um efeito contrário ao que se desejava, foi um tiro no pé - acabou reduzindo a influência dos Estados Unidos na América Latina', disse ao Estado um membro Republicano do Comitê de Relações Internacionais do Senado americano.
Para Peter DeShazo, diretor do programa das Américas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais e ex-secretário de Estado para o Hemisfério Ocidental, a redução do intercâmbio militar havia enfraquecido o relacionamento dos EUA na região. 'E se os EUA não se empenham na região, outros países vão se empenhar', disse De Shazo.
Com a perda de influência dos EUA na região, a China vem ocupando espaços importantes e estabeleceu programas de intercâmbio ou colaboração militar com Equador, Bolívia, Chile, Cuba, Venezuela e Jamaica.
A Casa Branca revogou parte do conteúdo da lei de 2003 para 21 países, 11 na América Latina (Barbados, Bolívia, Brasil, Costa Rica, Equador, México, Paraguai, Peru, St. Vincent e Grenadines, Trinidad e Tobago e Uruguai). Com isso, o governo Bush vai reiniciar o programa de educação e treinamento militar internacional (IMET, na sigla em inglês). E um dos resultados será o fortalecimento do programa de treinamento de militares latino-americanos na Escola das Américas, que fica no Estado da Geórgia. A Escola das Américas, que foi rebatizada para Instituto de Cooperação em Segurança para o Hemisfério Ocidental em 2001, treinou milhares de militares latino-americanos, muitos deles acusados de torturar suspeitos durante os anos de ditadura. Em 1996, o Pentágono admitiu que os manuais de treinamento usado pelos militares da Escola das Américas ensinavam técnicas de tortura e execuções.
'Infelizmente, esperamos um aumento no número de militares latino-americanos em treinamento na Escola das Américas', diz João da Silva, diretor de comunicações da organização School of the Americas Watch. 'Trata-se de um ato de desespero do governo americano para recuperar o papel de protagonista na região.'
Três militares brasileiros estão atualmente em treinamento no Instituto de Cooperação para Segurança do Hemisfério Ocidental, em cursos de combate ao narcotráfico e ao terrorismo, mas eles não estão usando os recursos do governo americano. 'Com a volta da assistência militar, esperamos um grande aumento no número de alunos destes 11 países, entre eles o Brasil', diz Lee Rials, porta-voz do instituto.
Medida é contraponto à ascensão de esquerdistas e influência chinesa
Patrícia Campos Mello
Para se contrapor à ascensão de governos esquerdistas na América Latina e à crescente influência da China na região, os Estados Unidos estão retomando programas de treinamento para militares de países latino-americanos, entre eles o da notória Escola das Américas.
Sem muito alarde, o presidente George W. Bush revogou há pouco mais de um mês uma lei de 2003 que proibia a assistência militar e o treinamento de soldados de alguns países. Com o fim do veto, o Pentágono espera intensificar o treinamento de militares e a transferência de tecnologia de defesa para 11 países da América Latina, entre eles o Brasil.
Em 2003, os EUA baixaram a Lei de Proteção aos Militares Americanos, cujo principal objetivo é proteger militares e funcionários americanos de julgamentos do Tribunal Penal Internacional. O tribunal foi criado em 2002 e permite que qualquer país possa julgar uma pessoa acusada de cometer crime contra a humanidade, genocídio ou crime de guerra - mesmo que o acusado seja estrangeiro.
Os EUA foram um dos poucos países a não assinar o estatuto, ao lado de China, Israel, Líbia, Catar, Iraque e Iêmen. O governo americano argumentou, na época, que o tribunal poderia dar origem a julgamentos politizados de soldados e integrantes do governo americano.
Parte da Lei de Proteção aos Militares Americanos proíbe a assistência militar e treinamento de soldados de países que se recusassem a assinar um tratado bilateral de imunidade (Artigo 98) com os EUA, a não ser que eles pertencessem à OTAN. Pelo tratado de imunidade, esses países se comprometeriam a não processar cidadãos americanos no Tribunal Penal Internacional.
Como vários países se recusaram a assinar esse tratado bilateral, eles foram cortados dos programas de treinamento e assistência militar.
'Mas a lei de 2003 produziu um efeito contrário ao que se desejava, foi um tiro no pé - acabou reduzindo a influência dos Estados Unidos na América Latina', disse ao Estado um membro Republicano do Comitê de Relações Internacionais do Senado americano.
Para Peter DeShazo, diretor do programa das Américas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais e ex-secretário de Estado para o Hemisfério Ocidental, a redução do intercâmbio militar havia enfraquecido o relacionamento dos EUA na região. 'E se os EUA não se empenham na região, outros países vão se empenhar', disse De Shazo.
Com a perda de influência dos EUA na região, a China vem ocupando espaços importantes e estabeleceu programas de intercâmbio ou colaboração militar com Equador, Bolívia, Chile, Cuba, Venezuela e Jamaica.
A Casa Branca revogou parte do conteúdo da lei de 2003 para 21 países, 11 na América Latina (Barbados, Bolívia, Brasil, Costa Rica, Equador, México, Paraguai, Peru, St. Vincent e Grenadines, Trinidad e Tobago e Uruguai). Com isso, o governo Bush vai reiniciar o programa de educação e treinamento militar internacional (IMET, na sigla em inglês). E um dos resultados será o fortalecimento do programa de treinamento de militares latino-americanos na Escola das Américas, que fica no Estado da Geórgia. A Escola das Américas, que foi rebatizada para Instituto de Cooperação em Segurança para o Hemisfério Ocidental em 2001, treinou milhares de militares latino-americanos, muitos deles acusados de torturar suspeitos durante os anos de ditadura. Em 1996, o Pentágono admitiu que os manuais de treinamento usado pelos militares da Escola das Américas ensinavam técnicas de tortura e execuções.
'Infelizmente, esperamos um aumento no número de militares latino-americanos em treinamento na Escola das Américas', diz João da Silva, diretor de comunicações da organização School of the Americas Watch. 'Trata-se de um ato de desespero do governo americano para recuperar o papel de protagonista na região.'
Três militares brasileiros estão atualmente em treinamento no Instituto de Cooperação para Segurança do Hemisfério Ocidental, em cursos de combate ao narcotráfico e ao terrorismo, mas eles não estão usando os recursos do governo americano. 'Com a volta da assistência militar, esperamos um grande aumento no número de alunos destes 11 países, entre eles o Brasil', diz Lee Rials, porta-voz do instituto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário