"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, janeiro 31, 2007

Folha de São Paulo - 31/01/07

Venezuela absorverá produção boliviana de derivados da coca

DA REDAÇÃO

A Venezuela anunciou que vai comprar da Bolívia todos os produtos industrializados cuja matéria-prima é a folha de coca. A declaração foi dada pelo embaixador venezuelano na Bolívia, Julio Montes, ao jornal boliviano "La Rázon".

"Igual ao que a África do Sul faz com o Peru, nós estamos dispostos a comprar o mate que saia daí [fábrica], os medicamentos. Tudo que saia daí estamos dispostos a comprar."

Segundo Montes, a produção seria entregue à "população venezuelana por meio dos mecanismos de distribuição de alimentos que o Estado possui".

Desde que assumiu a Presidência da Bolívia, em janeiro de 2006, Evo Morales tem incentivado a industrialização da coca e defendido uma política de "cocaína zero, mas não coca zero". Morales também está em campanha para valorizar a planta. De acordo com a Convenção de Viena, a folha de coca é uma substância controlada. Mas Morales tenta inverter essa situação.

A proposta da Bolívia é industrializar 4.000 toneladas de coca em chás, farinhas, biomedicamentos e outros produtos.

A Venezuela também tem investido na industrialização da planta e está financiando uma unidade na Bolívia para fabricação de produtos derivados da coca, como xampu e tempero.

De acordo com Montes, esses produtos terão mercado garantido, ainda que ele acredite que, no início, o mercado nacional absorverá a produção.

Ao ser questionado se a exportação de produtos que tem a coca como base não rompe os acordos da Convenção de Viena, Montes respondeu: "pergunte à Windsor (marca que produz chá de coca) se viola a Convenção de Viena".

Expansão da área legal

No final do ano passado, Morales anunciou um plano para aumentar a área legal cultivada com folha de coca de 12 mil hectares para 20 mil. Estima-se que a produção ocupe hoje cerca de 25 mil hectares no país.

O anúncio desagradou os EUA, que cortaram imediatamente 25% do valor da ajuda ao combate às drogas que entrega ao país andino.

"Por que não controlam o consumo de cocaína em seu país [nos EUA]? Lá existem 40 milhões de consumidores", replicou Montes ao "La Rázon".

Estima-se que menos de 1% da cocaína boliviana vá para os EUA. O principal destino é o Brasil, que recebe cerca de 90% da droga boliviana.

Nenhum comentário: