As informações que serão divulgadas esta semana, em Paris, pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) sobre o aquecimento global no século XXI não são nada alentadoras. Ao contrário, são extremamente preocupantes para o futuro da humanidade. Notícias preliminares sobre o novo relatório a ser distribuído pelo IPCC, que circulam nos bastidores, dão conta de que a temperatura neste século pode subir dois graus Celsius, num cenário mais otimista. Para se ter idéia do que isso significa, no século passado a alta foi de 0,6 grau.
Os dados podem ser ainda mais assustadores num cenário mais pessimista, verdadeiramente "infernal", com o planeta enfrentando elevação de temperatura da ordem de seis graus e subida no nível da água dos mares de 30 centímetros a 1 metro, o que levaria a inundação de dezenas de cidades - entre as quais Veneza - e afetaria diversas regiões do globo, inclusive o Brasil. A reportagem é do jornal Valor, 29-1-2007.
O avanço do conhecimento científico nos últimos cinco anos tem levado a uma preocupação cada vez maior com as calotas de gelo da Groenlândia e do Pólo Sul, na medida em que os blocos de gelo do Pólo Norte já estão boiando e, na melhor das hipóteses, estarão totalmente derretidos até o verão de 2040.
A possibilidade de as plataformas de gelo das regiões glaciais menos atingidas pelo aquecimento global quebrarem por causa do calor pode levar a uma elevação do nível do mar até acima do previsto pelo IPCC.
Militante da causa da mudança climática, Sérgio Besserman, economista e presidente do Instituto Pereira Passos, da prefeitura do Rio, além de conselheiro da WWF, uma ONG ambientalista internacional, defende que o tema, pela sua importância, "deve entrar na agenda do século XXI para não sair mais". O aquecimento global é uma realidade e já está ocorrendo, alerta. "Trata-se de uma tragédia anunciada, que perpassa todos os demais problemas vividos hoje pela humanidade." Diante de uma catástrofe climática, outros temas passam a ser vistos como menos importantes, como o crescimento econômico, o combate à pobreza e demais questões ambientais, como a crise de biodiversidade e a escassez de água doce, entre outros, pois o caos do clima impacta todos eles.
Um artigo do cientista Carlos Fioravanti, publicado na última revista da Fapesp, revela estudos do físico Luis Aímola sobre climatologia, onde os cenários de mudanças climáticas recebem uma abordagem típica dos economistas, mostrando o momento em que o crescimento econômico do mundo deve estagnar e começar a cair, de acordo com cenários mais amigáveis ou mais cruéis sobre o clima do futuro.
Em simulações que Aímola fez, tomando como horizonte os próximos cem anos e apenas dois blocos de países, um do Norte, bastante industrializado, e outro do Sul, em desenvolvimento, ele concluiu que, se a temperatura aumentar muito rapidamente, o crescimento econômico dos dois blocos de países poderia estacionar e começar a cair em 2015, 2022, 2037, 2043 e 2051, se não forem tomadas medidas para reduzir a emissão de CO2, o principal responsável pelo aquecimento global. Num cenário oposto, com a temperatura da Terra subindo mais lentamente, o crescimento econômico dos dois blocos de países poderia estagnar e começar a cair somente a partir de 2068, 2070, 2083 ou até mesmo só no século XXII.
Os "vilões" do aquecimento global são conhecidos e nada fazem para reverter o fenômeno. Os EUA são campeões de emissão de CO2 derivado dos combustíveis fósseis, matriz energética que move o mundo desde a revolução industrial. O governo americano se nega a assinar o Tratado de Kyoto, e só na semana passada o presidente George W. Bush emitiu um primeiro sinal, ainda tímido, de preocupação com o problema, ao anunciar a intenção de reduzir em 20% o consumo de gasolina nos próximos dez anos.
A lista dos poluidores inclui também Índia, China e Brasil. Este último figura como o 5º maior emissor mundial de gases de efeito-estufa derivados do desmatamento da Amazônia.
O enfrentamento do aquecimento global é crucial e difícil, pois requer a mudança da matriz energética dos combustíveis fósseis, e envolve profundas alterações no modo de produzir e de consumir surgidos na civilização do petróleo. O problema exige uma governança global com consciência ambiental, de sustentabilidade, como afirma Besserman. Para ele, o perigo é que a elevação das temperaturas não depende de uma solução tecnológica, que não existe, mas de uma ação planetária que corra contra o tempo.
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