Soldados na paz e na guerra
Além da atividade bélica, o Exército tem forte presença social no Brasil desde os tempos da Colônia, quando militares assumiam até funções de carteiros, bombeiros e construtores de estradas e prédios públicos
Imaginemos um Brasil com um exército de 9 milhões de soldados. Seria o maior do mundo, muitas e muitas vezes superior ao contingente de 290 mil homens que hoje integram nossas forças armadas. Parece um exagero? No entanto seria exatamente assim, caso o número de pessoas ligadas à atividade militar no país mantivesse, em relação à população, as mesmas proporções registradas no período colonial. Naquela época, cerca de 5% dos homens de todas as idades pertenciam a uma das diversas tropas existentes, seja de soldados permanentes - do exército regular, ou "tropas de linha", recrutados por nada menos que 25 anos -, ou então de milicianos - chamados de "ordenanças" ou "auxiliares", membros de unidades militares temporárias convocados apenas para treinamento e emergências.
Era um período em que o governo tinha uma presença mínima: basicamente se restringia à cobrança de impostos, à administração da defesa e da justiça e às atividades da igreja, então parte da máquina do governo. Como não havia um "serviço público" para executar esses serviços, e como as forças armadas estavam presentes em todo o país, estas tinham que realizar diversas atividades que hoje lhe são estranhas. Os militares atuavam como cobradores de impostos; carteiros, levando a correspondência para o interior; faziam obras, como estradas, pontes e prédios públicos; escoltavam valores; serviam como polícia; reprimiam os quilombos e os escravos nas suas tentativas de conquistar a liberdade, e até apagavam incêndios, já que não havia corpo de bombeiros, criado somente em 1856.
Adler Homero é mestre em História pela UFF, pesquisador
do IPHAN, curador do Museu Militar Conde de Linhares e autor,
entre outros livros, de Armas, ferramentas da paz e da guerra
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