Um informe do serviço de inteligência do Brasil assinala que a luta anti-narcotráfico realizada pelo governo Bush na América do Sul lhe permitiu uma influência direta na Amazônia e no Cone Sul. A notícia é do jornal Página/12, 30-1-2007.
Para a inteligência brasileira, a presença militar dos EUA na região representa uma ameaça ao país. Segundo especialistas brasileiros, Washington estaria intentando reproduzir sua estratégia na Colômbia no resto da América do Sul, especialmente na Amazônia. “A presença militar dos EUA poderá se expandir a outros países sul-americanos para transformar a luta contra o narcotráfico numa empresa militar sul-americana, e não somente Colômbia-EUA. O plano seguramente faz parte de uma estratégia dos EUA para assegurar uma presença militar direta na região andino-amazônica e no Cone Sul, em torno do Brasil”, alerta o informe.
Esta hipótese é conhecida como cerco. Segundo explica o pesquisador do Centro Argentino de Relações Internacionais – CARI -, Fabián Calle, os expertos em segurança brasileira defendem esta teoria há uma década, quando a América do Sul se convertia num cenário militar para Washington. Em 1999, os EUA instalaram a base de Manta, no Equador, no ano seguinte assinaram o Plan Colômbia e três anos depois o Plan Patriota, que permitiu aumentar a presença e a influência dos EUA no território colombiano. Em 2005, os EUA conseguiram a anistia para seus soldados no Paraguai, que durante um ano realizaram exercícios militares sem nenhum tipo de restrição. Atualmente há mais de 2000 estadounidenses – entre contratados e militares – na região. “Isto é um saber convencional e Lula o comartilha”, afirma o especialista.
Ainda que Lula não o destaque em seus discursos, seu governo sistematicamente tem executado uma estratégia defensiva no que diz respeito a uma possível ameaça de uma potência extra-regional. “Nos últimos dez anos, o Brasil investiu muito em defesa”, assinala Calle. O atual governo brasileiro destacou mais de 20 mil homens para defender a Amazônia e reforçou a força da marinha nas costas do oceano Atlântico. Estas são as duas prioridades de Brasília. Como o próprio Lula explicou, o Brasil deve proteger tanto a Amazônia verde como a azul – o Atlântico -, já que são duas das principais fontes de recursos naturais.
Para Calle, as possibilidades de que estes temores desemboquem num enfrentamento verbal ou militar entre Brasília e Washington são muito poucas. “No Brasil sempre houve uma convivência com os EUA”, assegura. Não somente porque há setores militares, empresariais e políticos que são pró-EUA, mas também porque em Washington persiste a imagem do Brasil como uma fonte de equilíbrio para as muitas vezes instável região.
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