Há fortes evidências de que a civilização está em xeque. Urge aos governos e às instituições internacionais tomarem medidas preventivas drásticas imediatas em nome dos óbvios interesses dos nossos descendentes", escreve Gilberto Dupas, economista, em artigo publicado hoje, 30-1-2007, no jornal Folha de S. Paulo. E ele pergunta: "Mas, como fazê-lo, se o modelo de acumulação que rege o capitalismo global exige contínuo aumento de consumo e sucateamento de produtos, acelerando brutalmente o uso de recursos naturais escassos?" E conclui: "O dilema é ao mesmo tempo simples e brutal: ou domamos o modelo ou envenenamos o planeta, sacrificando de vez a vida humana saudável sobre a terra".
Gilberto Dupas é o presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais, coordenador-geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP e autor de "O Mito do Progresso", entre outras obras.
Eis o artigo.
"Essa gravíssima advertência de Lévi-Strauss serve como um grande alerta para o desastre ambiental decorrente das lógicas da globalização e do consumismo.
Mas os que lideram o discurso hegemônico sobre a direção do que chamam "vetores tecnológicos do progresso" tentam abafar as sirenes de alarme; somente alguns as ouvem e muito poucos agem.
A queima de petróleo, carvão e gás elevou a concentração de CO2 (dióxido de carbono) na atmosfera de 280 ppm (partes por milhão) em 1860 para 365 ppm em 1990; é provável que atinja 700 ppm em 2100. Assim, os solos ficarão mais secos e as fortes estiagens serão em maiores número e intensidade. A temperatura média global pode subir até 6ºC nos próximos 100 anos. O gelo polar derreterá e poderá elevar o nível dos oceanos em até 94 cm, o que exigiria a remoção de mais de 90 milhões de pessoas.
Na Europa e nos Estados Unidos, por volta de 50% dos lagos e rios estão gravemente poluídos. De todos os ecossistemas mundiais, pelo menos 60% estão sendo explorados de maneira não sustentável, em processo de degradação que pode ser irreversível em 50 anos. A expansão agrícola de 1945 até 2004 foi superior à soma dos séculos 18 e 19; a destruição ambiental resultante agrava o percentual de plantas, mamíferos, aves e anfíbios em extinção; algumas dessas espécies nem sequer foram catalogadas.
O planeta também foi se tornando um imenso emissor de ondas eletromagnéticas, produto das múltiplas transmissões de rádio, televisão, telefone celular e radar, cujas conseqüências exatas sobre o meio ambiente e a saúde humana ainda estão por ser determinadas.
No entanto, já se sabe que bastam seis horas pedalando em meio a tráfego intenso para danos permanentes poderem ser causados aos vasos sangüíneos. A concentração de espermatozóides no sêmen dos homens tem caído assustadoramente; as hipóteses são consumo de produtos industrializados, estresse, poluição, medicamentos, produtos contra queda de cabelo, exposição à radiação, agrotóxicos, produtos químicos contidos em roupas, PCB -substância tóxica dos plásticos de embalagem- e outras toxinas da vida moderna. "São coisas que as pessoas vão incorporando e fazem um estrago tremendo nas mitocôndrias e no DNA", diz um cientista.
A revista científica "Human Reproduction" alerta para as relações entre aqueles fatores de poluição e a má-formação dos fetos ou os abortos espontâneos. O número de bebês prematuros cresceu 31% nos últimos 24 anos nos EUA e atinge um em cada oito nascidos, segundo pesquisa da Universidade de Stanford.
Há, pois, fortes evidências de que a civilização está em xeque. Urge aos governos e às instituições internacionais tomarem medidas preventivas drásticas imediatas em nome dos óbvios interesses dos nossos descendentes. Mas, como fazê-lo, se o modelo de acumulação que rege o capitalismo global exige contínuo aumento de consumo e sucateamento de produtos, acelerando brutalmente o uso de recursos naturais escassos? O dilema é ao mesmo tempo simples e brutal: ou domamos o modelo ou envenenamos o planeta, sacrificando de vez a vida humana saudável sobre a terra."
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