É crescente o interesse do capital estrangeiro pelo agronegócio no País. Os empreendimentos se multiplicaram desde a investida de produtores americanos em terras destinadas à soja no oeste da Bahia, no início da década. Além da soja - hoje também usada na produção de bioenergia -, o capital externo está de olho na pecuária, no reflorestamento, no café e até na seringueira. A reportagem é do jornal O Estado de S. Paulo, 29-1-2007.
Mas a nova estrela do campo é a agroenergia, liderada pela cana-de-açúcar para extração do álcool combustível. Na semana passada, por exemplo, em seu discurso anual, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, fez um apelo para que, em 10 anos, os americanos usem 20% de combustíveis renováveis nos veículos.
Com isso, a demanda pelo etanol nos EUA em 2017 pode chegar a 132 bilhões de litros . O volume equivale a quatro vezes o que o Brasil deverá produzir na mesma época, ou entre 30 e 40 bilhões de litros a partir da cana. Trata-se de um bom estímulo para os investidores.
Não há números exatos e globais de quanto os estrangeiros já desembolsaram aqui no agronegócio. Um indicador que mostra que esse movimento é crescente é a evolução do Investimento Direto Estrangeiro (IDE), divulgado pelo Banco Central. Ele inclui recursos usados na compra de ativos ou destinados a começar do zero empreendimentos.
Uma avaliação feita pelo coordenador-geral de Análises Econômicas do Ministério da Agricultura, Marcelo Fernandes Guimarães, mostra que em 1996 o IDE para o agronegócio somava US$ 568 milhões ou 6% do IDE total no País naquele período. Dez anos depois, o IDE do agronegócio atingiu US$ 3,5 bilhões ou 16% do IDE total registrado no ano passado, que foi de US$ 22,2 bilhões.
“Minha conta está subestimada”, diz Guimarães. Ele argumenta que incluiu nos cálculos atividades relacionadas à agricultura e pecuária, mas ficaram de fora insumos, como fertilizantes, máquinas e implementos agrícolas, porque não havia dados disponíveis dos recursos seguindo essa classificação.
A presença do capital estrangeiro nesses insumos tem um peso significativo. Além disso, não está computado nessas cifras o capital financeiro de fundos de investimento.
O presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital, Marcus Regueira, estima que os ingressos no Brasil de recursos para os fundos private equity alcancem US$ 2 bilhões este ano, o dobro do que entrou no País em 2006. Essa modalidade de fundo observa oportunidades de participação em empresas de capital fechado. Regueira avalia que boa parte dessa cifra entre no Brasil para ser aplicado no agronegócio.
“Há uma corrida de investidores internacionais para o agronegócio brasileiro. Eles buscam oportunidades que garantam boa remuneração e entre as principais apostas estão a produção de álcool combustível e compra de áreas no Centro-Oeste, no Nordeste e no Estado de São Paulo ”, diz Regueira.
O secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, João de Almeida Sampaio Filho, confirma que o investimento estrangeiro no agronegócio é crescente e está mais agressivo no setor de açúcar e álcool. A americana Cargill, por exemplo, depois de comprar 63% da destilaria Central Energética do Vale do Sapucaí (Cevasa), em junho do ano passado, estaria negociando a aquisição de mais duas usinas para este ano, conta ele. Também o grupo francês Tereos, dono da Usina Guarani, avalia novas aquisições, segundo Sampaio Filho.
A Dedini, a maior fabricante mundial de usinas de açúcar e álcool, tem números que confirmam essa tendência. De acordo com o vice-presidente Operacional da companhia, José Luiz Olivério, dos 189 projetos de novas usinas que solicitaram orçamento para a empresa, 30% são de investidores estrangeiros ou de empresas nacionais com parte dos recursos vindos do exterior. “O interesse dos estrangeiros aumentou substancialmente desde o ano passado.”
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