A hidrelétrica de Itaipu está para o Paraguai assim como o gás está para a Bolívia. A reivindicação da revisão do Tratado de Itaipu foi lançada como mote de campanha pelo líder da oposição Fernando Lugo, mas a mídia paraguaia se encarregou de fomentar o nacionalismo sobre o tema, que ganhou a boca do povo. Polêmica à parte, a campanha política se transformou em conscientização nacional. A reportagem é do Jornal do Brasil, 13-04-2008.
Fernando Lugo, se puder, "vai destruir o Tratado de Itaipu", ilustra Luiz Pinguelli Rosa, da Coppe. O especialista garante não haver injustiça da parte brasileira na hidrelétrica, que pertence em partes iguais ao Brasil e ao Paraguai, mas destina 90% de sua produção ao consumo brasileiro – o que representa 20% da energia consumida em nosso país.
– O Paraguai também lucra com Itaipu, só utiliza 10% de sua energia pelo seu tamanho. A empresa Itaipu tem dívida com o tesouro brasileiro e a Eletrobrás, que financiaram o projeto. O Brasil tem vantagem pois financiou e construiu.
Lugo denuncia que o Brasil paga o preço de custo (US$ 2,72 por megawatts/hora), e não o de mercado (US$ 72,00 megawatts/hora), pela energia excedente do Paraguai e sobre este ponto quer ver mudanças. Mas o Itamaraty alega que o valor foi estabelecido num acordo de 1973, entre os generais Stroessner e Médici, que vale até 2023.
– Se a polêmica seguir depois das eleições, o Brasil saberá negociar. O Itamaraty é bom para tirar vantagem – avalia Pinguelli.
O problema "é que o Paraguai não tem um governo sério e disso sabem Brasil, seus empresários e industriais", contrapõe Luis Fretes:
– Os referentes e conselheiros paraguaios em Itaipu não conhecem a problemática. É claro que o Brasil não vai deixar que mexam numa questão estratégica como Itaipu por um grupo de paraguaios que não sabe o que faz. Não se trata de uma política exterior imperialista, mas de uma submissão cultural e política.
O jornal ABC Color comprou a briga com a chancelaria brasileira ao publicar que um "ex-chefe do Itamaraty ameaçou o Paraguai" – em referência às declarações de Rubens Antonio Barbosa que considerou Itaipu como questão de "segurança nacional" - e sugeriu uma "intervenção militar".
O jornal avalia que o mesmo Brasil que pede o respeito ao Tratado o violou todas as vezes que lhe conveio e se pergunta se o Paraguai poderá "dialogar seriamente com o Brasil". Para o jornal, um preço justo na venda da energia paraguaia pode acabar com a indigência no país em um ano. E compara: a Eletrobrás lucra US$ 107 milhões ao mês, mas o Paraguai ganha US$ 100 milhões ao ano.
– Esta é uma mídia que quer colocar na Presidência alguém de acordo com seus interesses, então inflam a polêmica, e o resultado é o aquecimento do nacionalismo – avalia José Simón.
Para Fretes, a crise energética tornou urgente a negociação do preço da energia vendida em Itaipu:
– O povo paraguaio quer ver os avanços sociais da energia.
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