O Banco Mundial (Bird) refez as contas e concluiu que há mais miseráveis no mundo do que imaginava. O novo estudo, publicado ontem, constatou a existência de 1,4 bilhão de pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 por dia. Salvo a China, que obteve resultados positivos, o mundo continua vendo o aumento no número de miseráveis nos últimos 25 anos, mesmo na América Latina. Até a Índia, que alegava ser um exemplo de crescimento, demonstra ter um número maior de pobres hoje do que em 1981, em termos absolutos.
A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 27-08-2008.
O recálculo da pobreza foi feito a partir de novos dados obtidos pelos economistas do banco, que chegaram à conclusão de que a antiga medida de pobreza, de US$ 1,00, não era adequada. Para a entidade, a elevação da linha da pobreza para US$ 1,25 reflete de forma mais adequada a realidade. Um número maior de pessoas em 116 países foi entrevistado para que a entidade determinasse a nova linha da pobreza.
O resultado chocou até os especialistas. As conclusões são de que um em cada quatro habitantes dos países em desenvolvimento devem ser considerados pobres, vivendo com menos de US$ 1,25 por dia. Por esse mesmo cálculo, existiam 1,9 bilhão de pessoas em situação de pobreza em 1981. Isso, na época, representava 50% da população dos países em desenvolvimento. Pelos cálculos antigos, de US$ 1,00, o número de pobres era de 985 milhões de pessoas em 2004. Por esse mesmo cálculo, o número de pobres em 1981 era de 1,5 bilhão de pessoas.
“As estimativas sobre os preços e a renda comprovaram que essa quantidade de pobres era muito baixa”, afirmou o banco, em comunicado. Segundo os especialistas, o novo cálculo tem base na linha de pobreza dos 20 países mais miseráveis, entre eles Etiópia. “As novas estimativas representam um avanço importante na tentativa de medir a pobreza”, afirmou Martin Ravallion, diretor do Grupo de Pesquisa do Banco Mundial.
As estimativas mostram que, em termos porcentuais, há certos avanços. Pelas conclusões da entidade, o número de pobres caiu em 500 milhões de pessoas desde 1981. Naquele ano, a taxa de miseráveis era de 52% da população dos países em desenvolvimento. Hoje, seria de 26%. O problema é que quase a totalidade do avanço ocorre apenas na China.
“Os novos dados confirmam que o mundo provavelmente conseguirá atingir a meta de reduzir pela metade o número de pobres entre 1990 e 2015 e a pobreza vem caindo em 1% ao ano desde 1981”, afirmou Justin Lin, economista-chefe da instituição. “A notícia ruim é que a pobreza é maior do que pensávamos e precisamos redobrar nossos esforços, principalmente na África.”
Pelas projeções, mesmo que a meta seja atingida, mais de 1 bilhão de pessoas continuaria ganhando menos de US$ 1,25 por dia. Para os que deixaram essa faixa, a nova renda ainda não os permite sair da pobreza nos países de renda média, como o Brasil.
No Leste Asiático, a pobreza foi reduzida de forma profunda e é praticamente o único exemplo de grande sucesso. Em 1981, quase 80% viviam com menos de US$ 1,25 por dia. Em 2005, essa taxa era de 18%. A região deixou de ser a mais pobre do planeta.
CARRO-CHEFE
Praticamente todo o avanço que o Banco Mundial aponta ocorreu na China nos últimos 25 anos. Em 1981, 835 milhões de pessoas viviam com menos de US$ 1,25 por dia na China. Hoje, são 207 milhões. Apesar da queda, o banco alerta que o número de miseráveis na China é maior do que se pensava. Com base no cálculo antigo, só 130 milhões de pessoas na China viviam com menos de US$ 1,00 por dia.
Excluindo a China, o número de pobres de fato não diminuiu. Em 1981, 40% da população vivia com menos de US$ 1,25 por dia. Em 2005, essa taxa era de 29%. “Mas, diante do crescimento populacional, esse progresso não foi suficiente para reduzir o número de pobres fora da China”, alerta o banco. Entre 1981 e 2005, os miseráveis fora da China chegavam a 1,2 bilhão de pessoas.
Instituto Humanitas Unisinos - 27/08/08
O problema é que na África a pobreza continua afetando 50% da população. A taxa é praticamente a mesma de 1981 e pouco progresso foi feito desde então. Em termos absolutos, os números africanos mostram que a população miserável dobrou em 25 anos, passando de 200 milhões em 1981 para 380 milhões em 2005. “Se essa tendência continuar, um terço dos pobres do mundo viverão na África em 2015”, diz o banco.
O consumo médio de um pobre na África não chega a 70 centavos de dólar por dia. “Dado que a pobreza é tão profunda na África, um crescimento ainda maior da economia será necessário para ter algum impacto na pobreza”, afirma.
No sul da Ásia, os números absolutos também mostram que o total de pobres continua inalterado desde 1981,de cerca de 600 milhões de pessoas. Em termos porcentuais, a pobreza atinge 40% da população da região, ante 60% em 1981.
Na Índia, o número absoluto de miseráveis passou de 420 milhões em 1981 para 455 milhões em 2005. Em termos porcentuais, houve queda, de 60% em 1981 para 42% em 2005.
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