"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, agosto 29, 2008

UE ameaça sanções à Rússia; governo russo desdenha

BBC Brasil - 28/08/08
O ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov.
Lavrov disse que ameaça é 'resposta emocional' à crise

O ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, disse nesta quinta-feira que os líderes da União Européia estão considerando impor sanções à Rússia, dias após o Kremlin reconhecer a independência de duas províncias separatistas da vizinha Geórgia.

Kouchner não deu mais detalhes sobre a discussão, mas afirmou que o assunto "será resolvido através de negociações". Na segunda-feira, líderes da União Européia se encontrarão em caráter de emergência para decidir como lidar com a posição russa na atual crise.

Segundo a correspondente da BBC em Bruxelas Oana Lungescu, o anúncio de Kouchner representa uma virada na sua posição da UE adotada no início da semana, quando o ministro descartava a adoção de sanções contra a Rússia.

Entre as possíveis medidas a serem impostas está o bloqueio da Rússia à Organização Mundial do Comércio (OMC) e restrições para dificultar a entrada dos russos em países europeus.

O ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, desdenhou as declarações de seu parceiro francês e afirmou que a ameaça de sanções é uma resposta emocional aos problemas na Geórgia – o "animalzinho de estimação do Ocidente", conforme Lavrov.

Posição

O Ocidente vem nos últimos dias manifestando sua condenação à decisão do Kremlin de reconhecer a independência das províncias separatistas da Ossétia do Sul e da Abecásia.

Os líderes dos países que compõem o G7 - grupos dos sete países mais industrializados do mundo – afirmaram que o reconhecimento da independência das províncias separatistas por Moscou violava a integridade e soberania da Geórgia.

Em comunicado conjunto, os líderes de Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos condenaram a Rússia pelo "uso excessivo da força militar e sua contínua ocupação na Geórgia".

O grupo afirmou ainda que o reconhecimento da independência das regiões viola o plano de paz assinado pelos dois países.

Apesar das críticas, o presidente russo, Dmitri Medvedev, afirmou que a ação do país na Geórgia conta com o apoio da China e de aliados na Ásia Central, e que esta é uma "mensagem séria" para o Ocidente.

Em um discurso durante a cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês), Medvedev disse que a união do grupo terá "ressonância internacional".

"Espero que isto sirva de sinal para aqueles que tentam transformar preto em branco e justificar essa agressão", disse Medvedev, referindo-se à tentativa da Geórgia de retomar o controle da província da Ossétia do Sul através de ações militares no início deste mês.

Em resposta às operações georgianas, a Rússia empreendeu uma ofensiva que provocou ainda mais confrontos com o Exército da Geórgia.

O conflito foi encerrado mediante um acordo de cessar-fogo proposto pela União Européia que previa a retirada das tropas da região.

Diálogo

Depois das declarações feitas pelo presidente russo, o governo chinês reforçou sua preocupação com a posição da Rússia no Cáucaso.

"Esperamos que os países envolvidos resolvam essas questões através do diálogo", disse um porta-voz do Ministério do Exterior chinês.

A SCO foi formada em 2001 tendo como um de seus objetivos atuar como uma espécie de contrapeso para a influência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Oriente.

Segundo o analista da BBC para assuntos diplomáticos, Jonathan Marcus, a organização espera que a Rússia se volte mais para a região, já que suas relações com o Ocidente estão em crise.

Marcus esclarece, no entanto, que seria errado considerar essa união como um sinal de emergência de um bloco anti-Ocidente, já que seu membro mais poderoso – a China – não poderia estar mais integrado à economia internacional.

Além disso, o analista afirma ainda que a China considera a integridade territorial e a defesa da soberania nacional como valores quase sagrados em suas relações diplomáticas.

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