A crise financeira nos Estados Unidos fez com que a rentabilidade dos bancos brasileiros fosse mais que duas vezes a registrada pelos bancos norte-americanos no primeiro semestre deste ano. Os bancos brasileiros registraram rentabilidade de 21,7% em seus balanços de 30 de junho, e os americanos, de 8,9%.
A reportagem é de Guilherme Barros e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 25-08-2008.
Se forem levados em conta os quatro maiores bancos tanto do Brasil quanto dos Estados Unidos, a diferença aumenta. A rentabilidade dos principais bancos brasileiros no primeiro semestre deste ano, de 28,5%, é praticamente quatro vezes a dos americanos, de 7,1%.
Os quatro maiores bancos brasileiros são o Itaú (rentabilidade de 30%), o Unibanco (30%), o Banco do Brasil (27%) e o Bradesco (26,5%). Já os americanos são o Goldman SachsJP Morgan Chase (8,5%), o Bank of America (5,8%) e o Citigroup (-11,5%). (23,2%), o
O estudo com a comparação do desempenho dos bancos brasileiros e americanos foi feito pela consultoria Economática e levou em conta a rentabilidade média dos balanços publicados por 23 instituições no Brasil e 81 nos EUA no primeiro semestre deste ano.
Uma curiosidade é que, do final de 2002 até o primeiro semestre deste ano, portanto durante os cinco anos e meio do governo Lula, a rentabilidade dos bancos brasileiros saltou de 12,4% para 21,7%. Já entre os bancos nos EUA, nesse mesmo período, a rentabilidade caiu de 15,7% para 8,9%.
Segundo o economista Fernando Exel, presidente da Economática, a primeira conclusão do estudo é que a crise do "subprime" (as hipotecas imobiliárias de alto risco) dos EUA, que já dura um ano e afetou a saúde das instituições americanas, não respingou no país.
A razão da blindagem dos bancos brasileiros ao efeito "subprime", na opinião de Exel, deve-se ao fato de o volume de crédito imobiliário ser ainda muito pequeno, principalmente em comparação aos EUA.
O maior risco para o Brasil não é o do "subprime" mas de a crise de desaquecimento global atingir mais fortemente o país. Mesmo assim, não será um problema no setor imobiliário, e sim uma crise global.
Apesar de a crise do "subprime" nos EUA ser a principal responsável pelo fato de os bancos brasileiros ganharem mais do que os americanos neste ano, não se pode dizer que isso se trata de uma novidade. De acordo com a Economática, tem sido assim nos últimos três anos. A crise do "subprime" apenas ampliou essa diferença.
"Se compararmos o desempenho dos quatro maiores bancos no Brasil e nos EUA, sempre demos uma surra neles."
Concentração e juros
Segundo Exel, dois fatores explicam o fato de os ganhos dos bancos brasileiros superarem os dos americanos. Em primeiro lugar, a maior concorrência nos EUA. O Brasil é um dos países com maior concentração bancária do mundo.
Outro fator é o juro alto, modalidade na qual o Brasil tem sido imbatível nos últimos anos. O juro elevado também abre espaço para que os bancos elevem os "spreads", a diferença entre o valor do dinheiro captado e o cobrado, o que faz com que a lucratividade seja maior.
Num país com uma taxa básica de juro de 2%, como no caso dos EUA, torna-se difícil para os bancos cobrarem "spreads" muito elevados. Já no Brasil, onde a taxa básica de juro atinge 13%, é mais fácil para os bancos aumentarem os "spreads".
O ex-deputado federal Delfim Netto afirma que os bancos brasileiros ganham muito porque o Banco Central proporciona condições para isso. A seu ver, a alta rentabilidade do sistema bancário brasileiro se deve a mecanismos monetários adotados no país.
"O banco age com a racionalidade de qualquer cidadão ao procurar maximizar seu lucro, mas sempre dentro da lei", diz.
Para Delfim, o problema tem origem nos mecanismos de financiamento da dívida interna no país, que obriga o Brasil a ter uma das mais elevadas taxas de juro do mundo. "O juro no país é um erro de política monetária que o Banco Central continua alimentando", diz Delfim.
Já o economista e ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria, discorda. Ele diz que, no Brasil, os "spreads" são elevados não por causa do juro alto, mas em razão da elevada carga tributária e dos altos custos administrativos.
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