"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, outubro 01, 2008

Uma nova expectativa para a América Latina

Instituto Humanitas Unisinos - 30/09/08

Um país com instabilidade política recorrente começa a ver a consolidação de uma reforma estrutural. Ele não está sozinho. A recente convalidação nas urnas do governo de Evo Morales é o espelho no qual ele se olha, ainda que com suas especificidades e com um horizonte no qual se apresentam menos dificuldades.

A reportagem é de Mercedes López San Miguel, do jornal argentino Página/12, 29-09-2008. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“O Equador vive seu próprio processo, que depende dos equatorianos. No entanto, eu estou muito esperançoso”, foi o que o próprio Rafael Correa confiou a esta jornalista em dezembro passado, aludindo à tendência progressista da região. Então, não se vislumbrava no país comandado pelo aymara a ofensiva da oposição da Meia Lua autonomista, que seria saldada com uma dezena de camponeses mortos na caçada de Pando.

Como Morales, Correa quis referendar seu projeto estatista. Ontem, deu um passo a mais ao conseguir a aprovação da Carta Magna. O jovem mandatário recebeu o respaldo nas urnas da parte de todos os estratos sociais: os indígenas, a classe média, a média alta e os mais necessitados. Dessa maneira, esse triunfo é a confirmação da popularidade do presidente, que está acima de um contundente 70%. “Correa rompe a imagem da política que caracterizou o Equador nos últimos 15 anos, muito vinculada à corrupção, e projetou políticas para os mais necessitados”, adverte o analista Adrián Bonilla, diretor da Flacso [Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais] no Equador. Os subsídios, os bônus sociais destinados aos pobres e os preços controlados dos alimentos básicos são exemplos dessas políticas.

Mas Correa, como Morales em seu país, suporta uma oposição oligárquica que não participa da mudança. Guayaquil pode ser comparada a Santa Cruz de La Sierra? A primeira tem uma economia que não está vinculada ao mercado externo como os cruceños com o Brasil, mas brinda seus serviços principalmente a Quito. “Liberou o projeto autonomista, querendo uma retribuição por sua grande colaboração ao orçamento nacional”, adverte José Luis Ortiz, colunista do jornal El Expreso. “Ficam sentadas as bases para uma confrontação Quito-Guayaquil, isto é, a primeira não vê com bons olhos o processo de descentralização da capital econômica”, assinala o especialista. Bonilla discorda de Ortiz e assegura que “Guayaquil não representa um foco de instabilidade, pois poderia se assemelhar ao estado de Zulia, na Venezuela, onde não há uma proclama autonomista”. E sublinha que “Correa ganhou as últimas três eleições em Guayaquil e ontem à noite o voto pelo Sim rondava os 50% nessa cidade”.

Ainda que não esteja claro que exista uma afinidade retórica com a Bolívia e a Venezuela, o caso do Equador é particular. Não possui um discurso marcadamente anti-estadunidense como Caracas, nem tampouco faz parte da ALBA, a alternativa bolivariana à ALCA. Contudo, o passo adiante de ontem gera uma expectativa renovada no mapa da região.

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