Medo, incerteza, desprezo, frustração, saudade. Essas palavras ganharam peso na vida de brasileiros que foram morar no exterior em busca de melhores condições de vida e tiveram os planos atropelados pela crise mundial. O desemprego e a pobreza entre os imigrantes nos EUA, na Europa e no Japão vêm transformando o Brasil no destino de muitos deles, que, sem perspectivas lá fora, estão voltando para casa.
A reportagem é e Camila Nobrega e publicada pelo jornal O Globo, 26-04-2009.
Segundo a Polícia Federal, pela primeira vez em anos, o número de brasileiros que chegam à terra natal supera o registro de saídas.
De novembro de 2007 a março de 2008, 78,61% dos registros eram referentes às saídas de brasileiros, e 21,39% correspondiam às chegadas.
Mas, de novembro de 2008 a março de 2009, 51,26% dos registros foram de entradas, e as saídas caíram para 48,67%.
Alline Galo e Rodrigo Seabra não tinham planos de retornar agora. Mas, após oito anos na Espanha, estão perdendo os empregos e voltarão em maio:
— O sonho acabou. Meu marido está desempregado há três meses e eu trabalho numa loja que fechará em 30 de abril. Estamos vendo se pedimos a ajuda do governo espanhol. Após tanta luta para conseguir o visto de permanência, sinto-me desprezada.
Entre janeiro e fevereiro, pelo menos 200 brasileiros retornaram com a ajuda do programa de repatriamento de imigrantes lançado pelo governo espanhol, em novembro de 2008. A procura também tem sido grande na Organização Internacional para as Migrações (OIM): o Brasil lidera o ranking de pedidos de repatriamento.
Em 2008, dois mil brasileiros voltaram para casa com o auxílio da organização. Mas, até março de 2009, os benefícios concedidos pela OIM já se aproximavam do número total de 2008. A OIM estima que 6 mil brasileiros devem procurar auxílio este ano.
Brasileiros desempregados na Espanha chegam a 21,26% Mas a maioria dos imigrantes retorna por conta própria, por causa da burocracia dos processos de repatriamento. É o caso de Tsuyoshi e Clyssia Momonuki. Eles moravam no Japão, mas foram demitidos no início de março.
— Voltamos sem emprego ou reserva financeira e com uma filha de seis meses para criar — diz Tsuyoshi.
Segundo Eduardo Gradilone, diretor do Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior, do Ministério das Relações Exteriores, os pedidos de Autorização para Retorno ao Brasil (ARB) passaram de 12.395 em 2007 para 15.142 em 2008, alta de 22%. Em 2009,o número deve ser maior:
— A ARB é para imigrantes que estão sem passaporte, irregulares.
Sobre repatriações, a Espanha nos preocupa, porque oferece ajuda até para quem tem emprego.
Os pais e a irmã de Alex Hiroshi foram demitidos no Japão e voltaram para o Brasil em março.
— Eu vim para ficar alguns meses, mas não posso voltar ao Japão — conta.
O programa de repatriamento do governo japonês foi lançado há menos de um mês, mas 162 famílias brasileiras fizeram o pedido e centenas assistem às palestras diárias sobre os benefícios.
Segundo a Embaixada do Brasil em Tóquio, os brasileiros desempregados são mais de 40 mil (12% do total). Nos Estados Unidos, o número chega a 100 mil (8%), e na Espanha são 26 mil (21,26%).
Sem opções de emprego na Holanda, Maria Bethânia Santos voltou ao Brasil em janeiro:
— Estou terminando doutorado e não conseguia nem emprego para ensino superior. Meu marido, que é holandês, também vai recomeçar a vida no Brasil.
Mas há quem prefira esperar a situação melhorar, como a brasileira Bárbara Eesa, que também mora na Holanda:
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