Coluna Econômica - 26/04/2009
Nas colunas anteriores, analisei a maneira como se montaram pactos econômicos e políticos no país, nos governos Collor e Fernando Henrique Cardoso.
O governo Lula era para ser uma ruptura com o sistema de alianças consolidado por Fernando Henrique Cardoso. Apesar das relações com o setor industrial - formada nos anos 80 - , o leque de ligações empresariais de Lula e do PT era mínimo. A rigor, os financiamentos de campanha se limitavam a fornecedores municipais.
As bases de apoio iam de centrais sindicais aos movimentos sociais. E, costurando os sistemas de financiamento, os chamados operadores do partido.
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Desde o primeiro momento, a estratégia de Lula (e de José Dirceu) era manter as bases conquistadas e avançar sobre as bases de apoio de FHC. Através do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) foram convocados sindicatos, grandes empresários, líderes de classe, para discutir o país - embora sem nenhum poder deliberativo.
Mas a estratégia central consistiu em um pacto com o mercado - mantendo o Banco Central como território dele.
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Na década anterior - até a posse de Lula e primeiros meses de governo - o mercado sempre foi um agente desestabilizador da política. O segundo governo FHC praticamente acabou no primeiro mês, depois da desvalorização do real. Na campanha eleitoral, o terrorismo de mercado foi brandido intensamente, ajudado pela explosão do dólar.
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Do ponto de vista político, o primeiro governo Lula foi um desastre. As concessões ao mercado praticamente paralisaram a política econômica. A postura sumamente ortodoxa do Banco Central jogou pela janela as oportunidades abertas pela desvalorização do real. E a falta de controle sobre os militantes que ocuparam a máquina resultou no episódio conhecido como “mensalão”, que quase derruba o governo. Em vez dos grandes financiamentos no atacado, como no governo FHC, recorreu-se a um varejo suicida.
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A reação passou a ocorrer no último ano do primeiro mandato e a partir do segundo mandato. O mercado continuou dominando o BC, mas houve aproximações sucessivas com o setor produtivo, um melhor gerenciamento das ações de governo e a consolidação de políticas sociais relevantes, como a Bolsa Família. Também se tratou de criar os próprios supergrupos aliados, como o episódio da BrOi.
Com essas ações, Lula ocupou o espaço da centro-esquerda, jogando o PSDB para a direita.
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O ponto central, o divisor de águas, no entanto, foi o avanço do SISBIN (Sistema Brasileiro de Inteligência), pelo então Ministro da Justiça Mário Thomaz Bastos, juntando os setores de repressão ao crime organizado. Àquela altura, pouco antes da grande crise mundial, os estados nacionais começavam a se aparelhar para enfrentar os grandes capitais voláteis que se abrigavam em paraísos fiscais.
As colaborações entre países, os bancos de dados digitais, a possibilidade de rastreamento das contas bancárias, os grampos legais, a ampliação exponencial das informações disponíveis na Internet, tornaram inviável o modelo político e de tomada de poder praticado por todos os partidos e pela mídia. É uma viagem sem retorno.
Mas será tema de uma próxima coluna.
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