Nas colunas anteriores, procurei resumir o modo tradicional de fazer política no país, com grupos políticos se associando a interesses econômicos - em especial, do mercado financeiro - e à chamada grande imprensa, para montar pactos de controle do Estado.
Esse modelo começou a ruir nos últimos anos, em função de mudanças ocorridas no ambiente tecnológico, na economia mundial e nas condições estruturais da economia brasileira.
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Nos últimos anos ocorreu um processo gradativo de descentralização da economia.
Historicamente, o Brasil tinha uma economia litorânea, muito focada em dois grandes centros - Rio de Janeiro e São Paulo - e, após a mudança da capital, em Brasília. Nos últimos anos, a parte dinâmica da economia mudou-se para as cidades média do interior de São Paulo, Minas, os três estados do sul e para pólos de desenvolvimento no norte, nordeste e centro-oeste.
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No entanto, o modelo político continuou focado no mercado financeiro do eixo Rio-São Paulo e nas grandes empresas da área. Problemas setoriais, agrícolas, com pequenas e micro empresas jamais receberam tratamento preferencial porque o modelo não deixava. E peça central desse modo é a chamada grande mídia - quatro ou cinco jornais das três cidades, uma ou duas revistas semanais e programas jornalísticos da rede Globo.
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A primeira grande mudança - que marca o fim do atual modelo - está se dando no campo da informação. Nos últimos anos, acabou o mito dos chamados jornalões nacionais. Tanto no mercado publicitário quanto nas verbas públicas há a tendência de se passar a privilegiar a mídia regional.
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Há um conjunto de motivos que explica essa virada. O primeiro deles, o florescimento da Internet, que passou a competir diretamente com a chamada mídia nacional, já que a imprensa regional tem bons diferenciais na cobertura dos assuntos locais. Blogs e sites, multiplicando-se pela Internet, acabaram com o monopólio da informação exercido pela chamada grande imprensa.
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Um segundo fator foi a deterioração de um modelo de negócios ilegal, entre empresas e agências de publicidade, que era ignorado e impedia a competição. Trata-se do chamado bônus de veiculação, pelo qual grandes veículos pagam às agências pela propaganda veiculadas nele. Esse modelo tem sido praticado especialmente pela Rede Globo - no campo da televisão - e pela Editora Abril - no campo das revistas. Hoje em dia, as agências praticamente são remuneradas por esses BVs.
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Os anunciantes foram percebendo, em determinado momento, que as agências atendiam muito mais os interesses dos veículos do que das empresas. Houve, então, uma mudança gradativa na composição das verbas de marketing. Hoje em dia apenas 40% passam pelas agências de publicidade e chegam até os veículos tradicionais. A parcela maior é administrada pela própria empresa, ou em eventos promocionais ou em apoios institucionais ou direcionada para outras mídias, como a Internet.
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A pá de cal nesse modelo centralizador por dada pela Secom (Secretaria de Comunicação do governo federal), quando incluiu a mídia regional nas análises de “share” da publicidade oficial.
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Nos próximos anos, haverá uma redução cada vez maior do poder absoluto da grande mídia e uma diversificação de fontes de informação, seja na mídia regional, nos blogs e em outros portais. E isso em um momento em que a ampliação dos bancos de dados digitais permite toda sorte de pesquisas.
Sem o controle da informação - como havia antes -, com o avanço da profissionalização da Polícia Federal, Ministério Público, Tribunais de Conta, não haverá como preservar o velho modelo.
Nos próximos anos, a forma de fazer política terá que mudar radicalmente.
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