Juan José Badiola, diretor do Centro de Pesquisa em Encefalopatias Transmissíveis e DoençasEmergentes de Zaragoza, na Espanha, publicou artigo no jornal El País, 26-04-2009, em que comenta a preocupação levantada em razão dos recentes surtos de gripe suína, especialmente no México e nos EUA.
Segundo Badiola, podemos estar "frente a uma epidemia de rápida propagação de um vírus de gripe que contém genes de origem suína, aviária e humana. [...] Essa combinação genética poderia ter dado lugar a um novo vírus de gripe de comportamento imprevisível". A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o artigo.
Os recentes casos humanos de gripe suína registrados no México e nos Estados Unidos trouxeram à tona de uma hora para outra a preocupação com a pandemia de gripe aviária que provocou muito impacto no passado entre os cidadãos e autoridades e que foi motivo de interesse dos meios de comunicação de todo o mundo durante meses. Segundo as informações de então, parecia que uma pandemia de gripe era algo iminente e inevitável, e os responsáveis das organizações de saúde internacionais assim o sugeriam. As autoridades de muitos países alertados por elas e pressionados por suas populações se apressaram em se preparar para combater essa ameaça.
O perigo provinha da amostra H5N1 de um vírus da gripe aviária, que chegou a ser familiar para todos, que dizimava as populações avícolas de vários países asiáticos e africanos, que se propagava a distâncias longínquas por meio de aves silvestres migratórias e que também afetava pessoas e outros mamíferos. Muitos cidadãos souberam, para sua surpresa, que existiam vírus gripais que humanos e animais compartilhavam, e, na Espanha, a gripe espanhola voltou à memória coletiva.
Mas a pandemia não se produziu, e agora, de repente e de maneira inesperada, a ameaça reaparece outra vez, neste caso protagonizada por um vírus de gripe suína, o H1N1. A pergunta que muitos se fazem é se realmente existem motivos fundamentados de preocupação ou se estamos novamente frente a um alarme falso. Não é fácil fazer previsões, mas, ainda que muitos dos casos de gripe registrados estejam na categoria de suspeitos e, portanto, ainda não são confirmados, o número elevado deles e o de mortes de adultos jovens indica uma realidade preocupante. Também é preocupante, para a opinião pública, o conjunto de medidas adotadas pelas autoridades mexicanas, com toda probabilidade, mais do que justificadas.
Se finalmente se confirmar que a maioria dos casos de gripe humana registrados no México foram causados pelo mesmo vírus isolado nos casos da Califórnia e do Texas, estaríamos frente a uma epidemia de rápida propagação de um vírus de gripe que contém genes de origem suína, aviária e humana. É sabido que os vírus aviários podem ter um poder patogênico elevado, e que o porco é a espécie em que se costumam produzir recombinações entre vírus de gripe de naturezas e espécies distintas. Essa combinação genética poderia ter dado lugar a um novo vírus de gripe de comportamento imprevisível.
Por isso, é lógico que as autoridades da OMS estão preocupadas, razão pela qual decidiram elevar em um nível o risco de pandemia, e essa preocupação deve ser compartilhada pelo resto dos países. Os europeus, e muito particularmente a Espanha, devem seguir muito de perto o que está acontecendo no México e nos Estados Unidos, países dos quais um número elevado de pessoas vêm e aos quais se dirigem, e têm que adotar as medidas de precaução apropriadas.
Por sorte, a preparação frente à ameaça de pandemia provocada pelo vírus de gripe aviária H5N1 irá permitir que se enfrente essa nova situação em condições mais favoráveis do que as que existiam no passado.
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