"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, abril 28, 2009

E se esta for a pandemia?

Instituto Humanitas Unisinos - 27/04/09

Juan José Badiola, diretor do Centro de Pesquisa em Encefalopatias Transmissíveis e DoençasEmergentes de Zaragoza, na Espanha, publicou artigo no jornal El País, 26-04-2009, em que comenta a preocupação levantada em razão dos recentes surtos de gripe suína, especialmente no México e nos EUA.

Segundo Badiola, podemos estar "frente a uma epidemia de rápida propagação de um vírus de gripe que contém genes de origem suína, aviária e humana. [...] Essa combinação genética poderia ter dado lugar a um novo vírus de gripe de comportamento imprevisível". A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o artigo.

Os recentes casos humanos de gripe suína registrados no México e nos Estados Unidos trouxeram à tona de uma hora para outra a preocupação com a pandemia de gripe aviária que provocou muito impacto no passado entre os cidadãos e autoridades e que foi motivo de interesse dos meios de comunicação de todo o mundo durante meses. Segundo as informações de então, parecia que uma pandemia de gripe era algo iminente e inevitável, e os responsáveis das organizações de saúde internacionais assim o sugeriam. As autoridades de muitos países alertados por elas e pressionados por suas populações se apressaram em se preparar para combater essa ameaça.

O perigo provinha da amostra H5N1 de um vírus da gripe aviária, que chegou a ser familiar para todos, que dizimava as populações avícolas de vários países asiáticos e africanos, que se propagava a distâncias longínquas por meio de aves silvestres migratórias e que também afetava pessoas e outros mamíferos. Muitos cidadãos souberam, para sua surpresa, que existiam vírus gripais que humanos e animais compartilhavam, e, na Espanha, a gripe espanhola voltou à memória coletiva.

Mas a pandemia não se produziu, e agora, de repente e de maneira inesperada, a ameaça reaparece outra vez, neste caso protagonizada por um vírus de gripe suína, o H1N1. A pergunta que muitos se fazem é se realmente existem motivos fundamentados de preocupação ou se estamos novamente frente a um alarme falso. Não é fácil fazer previsões, mas, ainda que muitos dos casos de gripe registrados estejam na categoria de suspeitos e, portanto, ainda não são confirmados, o número elevado deles e o de mortes de adultos jovens indica uma realidade preocupante. Também é preocupante, para a opinião pública, o conjunto de medidas adotadas pelas autoridades mexicanas, com toda probabilidade, mais do que justificadas.

Se finalmente se confirmar que a maioria dos casos de gripe humana registrados no México foram causados pelo mesmo vírus isolado nos casos da Califórnia e do Texas, estaríamos frente a uma epidemia de rápida propagação de um vírus de gripe que contém genes de origem suína, aviária e humana. É sabido que os vírus aviários podem ter um poder patogênico elevado, e que o porco é a espécie em que se costumam produzir recombinações entre vírus de gripe de naturezas e espécies distintas. Essa combinação genética poderia ter dado lugar a um novo vírus de gripe de comportamento imprevisível.

Por isso, é lógico que as autoridades da OMS estão preocupadas, razão pela qual decidiram elevar em um nível o risco de pandemia, e essa preocupação deve ser compartilhada pelo resto dos países. Os europeus, e muito particularmente a Espanha, devem seguir muito de perto o que está acontecendo no México e nos Estados Unidos, países dos quais um número elevado de pessoas vêm e aos quais se dirigem, e têm que adotar as medidas de precaução apropriadas.

Por sorte, a preparação frente à ameaça de pandemia provocada pelo vírus de gripe aviária H5N1 irá permitir que se enfrente essa nova situação em condições mais favoráveis do que as que existiam no passado.

Nenhum comentário: