"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, abril 30, 2009

Destino da GM pode ser a fragmentação

Instituto Humanitas Unisinos - 28/04/09

A General Motors nos Estados Unidos está "agonizante" e se arrasta para um provável desmembramento, na opinião do economista Fernando Sarti, professor do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (Neit) do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp). Para o especialista, o novo plano de viabilidade, anunciado ontem, é mais uma tentativa do governo americano, junto com os executivos da GM, de valorizar os ativos da empresa que ainda podem ser objetos de alguma negociação, seja a venda ou a fusão com outras empresas.

A reportagem é de Fernando Dantas e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 28-04-2009.

Ele acha também que o plano tem um componente político. "Não teria cabimento um governo que vai comemorar cem dias ter no seu currículo o fechamento da empresa que foi o símbolo da economia capitalista. A ideia é dar um tempo, um respirador, mas não acredito que a GM consiga sair dessa situação", comenta Sarti.

Para o economista, "o problema da GM não é simplesmente de caixa". Ele nota que a empresa já enfrentava dificuldades antes da crise financeira global e não realizou as inovações de produtos, de processo e organizacionais de que precisaria para se manter competitiva em relação a rivais como as montadoras japonesas. Para ele, "não há mais tempo hábil para que a GM corra e feche essa brecha".

Diante desse quadro, a possível estatização da GM - caso o plano anunciado ontem vá em frente - é uma forma de o governo do presidente Barack Obama mostrar que não foi insensível às perdas estratégicas e de empregos com o colapso da mais famosa montadora americana. "Se o governo cruzasse os braços e sinalizasse uma solução puramente de mercado, a GM já teria fechado as portas há seis meses", resume Sarti.

Mas o governo também busca indicar, na sua análise, que esse compromisso com a GM tem limites, já que mesmo com uma injeção muito mais maciça não teria como salvar a empresa - e há uma disputa pelos recursos para o salvamento de outros setores e empresas.

Assim, a solução seria tentar dar "liquidez" aos ativos intangíveis ainda preservados da GM, como as principais marcas, fatias de mercado e, especialmente, as operações no exterior, como na Europa, China e Brasil.

Sarti, observa, porém, que a GM não vai conseguir apoio de governos e bancos para as suas operações no exterior - como vem tentando, inclusive no Brasil, como no caso da ampliação da unidade de Gravataí -, se não conseguir segregá-las totalmente da matriz.

"Ninguém é maluco hoje de botar dinheiro na empresa, que pode acabar indo parar na matriz", diz o economista. Uma saída, portanto, seria valorizar pedaços ainda vendáveis da empresa e vendê-los ou incorporá-los a outras empresas por meio de fusões. Separados da estrutura apodrecida da montadora americana, esses pedaços poderiam então receber aportes de recursos e sobreviver ao colapso da empresa símbolo do capitalismo americano.

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