"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, abril 29, 2009

Planilha do BC desnuda a política monetária

Blog do Luis Nassif - 27/04/09

Na economia, assim como no jornalismo, há duas formas de notícia: os fatos em si e a ênfase com que é tratado. Pode-se transformar uma compra de paioca em escândalo; ou pode-se transformar um escândalo em algo banal.

Tome-se, por exemplo, o estudo do Banco Central (que sairá no próximo Relatório de Inflação) sobre expectativas do mercado - segundo matéria de Alex Ribeiro, do Valor em Brasília (clique aqui).

O estudo é a melhor comprovação estatística até agora sobre o custo excessivo da política monetária, o abuso na utilização excessiva do câmbio como âncora inflacionária e os vícios da pesquisa Focus (feita com o mercado, a partir da qual o Copom baliza suas decisões).

Um estudo feito pelo Banco Central mostra que as expectativas de inflação também têm um alto grau de persistência - ou seja, quando sobem, demoram bastante para cair (…). O trabalho investiga os determinantes das expectativas de inflação para o período de 12 meses seguintes.

Matematicamente, os cálculos revelam que se num dado mês a expectativa de inflação tiver subido 1%, no mês seguinte será maior em percentual em torno de 0,7%.

(…) Uma das explicações do BC para a rigidez nas expectativas são os custos de reputação que os analistas econômicos incorrem se mudam muito de ideia sobre a evolução da inflação.

Essa cautela comprova a dificuldade dos analistas em avaliarem corretamente as inflexões radicais da economia. E mostra porque em dezembro, com a atividade industrial derretendo, o Banco Central teimava em falar de nível de atividade robusto.

No mesmo estudo, está demonstrado que os analistas demoram para mudar suas projeções de inflação para períodos mais longos, mas são mais rápidos para rever opiniões para a inflação de curto prazo. Ou seja, a inflação esperada para o próximo mês é menos rígida do que a expectativa para o ano. Uma explicação é que, normalmente, as projeções de inflação de curto prazo são feitas com base na coleta de dados mais imediatos, como o desempenho da safra, os reajustes de mensalidades escolares e aumentos da gasolina.

Outra explicação, mais simples ainda, é que em 30 dias seus erros serão lembrados; em um ano, dificilmente. É por isso que até conclusões óbvias decorrentes da crise (como queda do superávit comercial) leva tempo para ser aceita pela pesquisa Focus. É a comprovação cabal de que o sistema é falho, o universo pesquisado é viciado e limitado.

A inflação corrente também tem influência na formação das expectativas de longo prazo (12 meses adiante), mas seu peso é relativamente pequeno. Se, por exemplo, a inflação sobe 1%, as expectativas de inflação aumentam apenas 0,15%. Assim, de acordo com o estudo do BC, apenas uma fração dos soluços da taxa de inflação corrente é incorporada nas expectativas.

A meta de inflação tem um peso mais importante na formação das expectativas do que a inflação corrente. Se, por exemplo, a meta for reduzida em 1%, a expectativa cai em 0,2%. Esse é um sinal, na visão do BC, da credibilidade da política monetária. Quanto mais crível, mais os analistas econômicos usam a meta de inflação como o seu cenário mais provável para a inflação.

A questão básica é que a expectativa do mercado não baliza reajustes da preço da economia real. O BC toma a nuvem por Juno. E em cima de um universo muito mais preocupado em acertar qual a expectativa de inflação com que o BC trabalha, do que analisar o mundo real.

O estudo do BC mostra ainda que a taxa de juros tem um papel importante para controlar as expectativas de inflação. Uma alta de juros de 1% provoca uma redução de 0,07% na expectativa de inflação.

Papel importante é gozação. 1 ponto percentual na Selic significa um custo monumental para o país. E o efeito sobre as expectativas de inflação é 0,07% no ano! Efeito desprezível!

O câmbio também afeta as expectativas de inflação. Uma alta de 10% na cotação do dólar provoca um incremento de 0,07% nas inflação projetada pelos analistas econômicos.

Mais uma vez, efeito desprezível em relação aos benefícios propocionados nas contas externas e no nível de atividade.

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