"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, março 19, 2010

O Muro de Berlim caiu, mas a desconfiança continua

darussia.blogspot.com - Quinta-feira, Março 18, 2010




Não obstante o Muro de Berlim ter caído há mais de vinte anos e a Administração de Barack Obama ter proclamado o “recarregamento” das relações com a Rússia, os políticos russos continuam a olhar com desconfiança para com a política norte-americana face ao seu país.

Uma das principais razões da irritação dos políticos russos consiste em que Washington deixou de olhar para Moscovo como para um parceiro igual na arena internacional.

“A direção russa não tem uma conceção do mundo estratégica. Ela enerva-se pelo facto de a Rússia ser ignorada, ser considerada “antiga superpotência””, defende Nikita Zagladin, analista do Instituto de Economia e Relações Internacionais de Moscovo.

Segundo uma fonte diplomática da Lusa na capital russa, “face à “política de desigualdade”, Moscovo tenta conservar a sua influência, mesmo que à custa de alianças com regimes como o venezuelano ou iraniano”.

“Isso leva a que a Rússia responda com o “não” a quase todas as propostas norte-americanas, nomeadamente no que diz respeito à segurança europeia, às sanções contra o Irão”, sublinha a mesma fonte.

Além disso, Moscovo exige que a comunidade mundial reconheça o antigo espaço soviético como “zona de especiais interesses”, recebendo com irritação declarações como a que Hillary Clinton, Secretária de Estado norte-america, fez à revista russa The New Times: “Para nós é inaceitável a posição sobre esferas especiais de influência, isso são ideias do séc. XIX. Apoiamos completamente a decisão da NATO de realizar uma política de portas abertas para com a Geórgia e a Ucrânia.

“No fundo, apenas a cooperação bilateral com vista à normalização da situação no Afeganistão avança, mas, mesmo assim, com alguns atritos”, sublinha a fonte diplomática.

As relações económicas entre os dois países são uma das provas mais evidentes dos problemas e divergências existentes. A quota dos Estados Unidos no comércio externo russo é inferior a 04 por cento, enquanto que a da Rússia em igual sector norte-americano é ainda menor: menos de 01 por cento.

Moscovo queixa-se de as relações económicas serem travadas pela existência de reminiscências da “guerra fria” como a emenda Jackson-Vanik, aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos em 1974, que limitava o comércio com os países do “bloco socialista” que impediam a emigração dos judeus para Israel.

“Há muito que não existe a URSS, ninguém dificulta a liberdade de emigração e de crença. Não obstante, essa emenda obsoleta, absurda, continua em vigor e, no fundo, é um instrumento político”, refere Ruslan Kondratov, deputado da Duma Estatal (câmara baixa) do Parlamento russo.

Segundo ele, esse é um dos obstáculos à adesão da Rússia à Organização Mundial de Comércio.

“Claro que estamos prontos a cooperar e desenvolver as nossas relações com os Estados Unidos, mas essa cooperação não deve ser unilateral. A Rússia quer ser ouvida, e o mais importante, que sejam levados em conta os seus interesses”, conclui Kondratov.

No que respeita aos russos comuns, a sua atitude face aos Estados Unidos melhorou muito depois da eleição de Barack Obama para o cargo de Presidente dos Estados Unidos. Segundo um estudo do Instituto de Sociologia Levada, realizado em Janeiro passado, 54 por cento dos russos “olham muito bem e bem” para os Estados Unidos; 31 por cento “olham mal e muito mal” e 15 por cento “de forma indiferente”.

No final da guerra entre a Geórgia e a Rússia, em Agosto de 2008, 55 por cento dos russos olhavam “mal e muito mal” para os EUA; 31 por cento “bem e muito bem” e o número de “indiferentes” era o mesmo.

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