Entre os anos de 1995 a 2006, o emprego no campo gaúcho reduziu 11%, uma média de 1% a cada ano. O dado consta no último Censo Agropecuário, realizado de dez em dez anos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao todo, 157,5 mil pessoas perderam seus postos de trabalho no período analisado pelo IBGE. Destas, 108 mil eram agricultores familiares e os outros 48 mil, empregados sem vínculos com o proprietário da terra. A reportagem é de Raquel Casiraghi e publicada pela Agência de Notícias Chasque, 31-01-2008.
A queda de emprego na agricultura reflete uma nova tendência do setor, que vem sofrendo alterações profundas em sua cadeia produtiva. O técnico Sidemar Presotto Nunes, do Departamento de Estudos Sócio-econômicos Rurais (DESER), avalia que a tecnologia amplamente empregada nas monoculturas, como a soja e o trigo, agora chega na cadeia da agricultura familiar. Áreas em que eram utilizadas somente a mão-de-obra familiar, como a criação de aves e de suínos e a produção de leite, dão espaço para o emprego de máquinas, como a ordenhadeira mecânica.
"Na atividade do leite, por exemplo, nesses últimos anos vêm sendo desenvolvidas novas tecnologias que permitem aumentar a produtividade do trabalho, fazendo com que os produtores aumentem suas escalas de produção. Aqueles produtores que produziam 50 litros de leite diariamente hoje já produzem mais do que isso ", explica.
Nas monoculturas, como a soja, a tendência é que as tecnologias e as máquinas reduzam cada vez mais o pouco emprego que ainda mantêm no campo. Das atividades que são característica de agricultura familiar, Sidemar prevê que somente a cultura do fumo deve ainda permanecer sem mecanização, mantendo assim as pessoas na agricultura. O leite irá seguir estruturado na família do camponês, mas a participação das pessoas deve diminuir cada vez mais com o emprego da tecnologia.
A mudança na cadeia da agricultura familiar se reflete em toda a região Sul, caracterizada pela formação de pequenas propriedades. No Censo Agropecuário do IBGE, a região despontou como a que mais desempregou em todo o país nos últimos 11 anos. Cerca de 498. 874 trabalhadores perderam o emprego, o dobro do registrado nas regiões Sudeste e Nordeste. Ao mesmo tempo as indústrias do setor, como a de máquinas e implementos agrícolas, cresceram 7,6% apenas no Rio Grande do Sul.
No entanto, Sidemar alerta que isso não significa que os agricultores passaram a ser trabalhadores das indústrias e nem que o êxodo rural agravou nesses últimos anos. Muitos camponeses acabaram permanecendo no campo, afirma o técnico, devido ao processo de reforma agrária que se intensificou nesta última década no país. O campo teve um acréscimo de 400 mil novas propriedades rurais decorrente da distribuição da terra. Outro motivo seriam as políticas governamentais de crédito para a pequena propriedade e os benefícios sociais, como a aposentadoria rural.
Mas a preocupação sobre o futuro da agricultura camponesa permanece entre os pequenos agricultores. Ari Pertuzatti, integrante da coordenação da Fetraf-Sul, teme que um novo esvaziamento do campo possa ocorrer. Com famílias cada vez menores e com a falta de perspectivas para que o jovem permaneça na agricultura, o campo pode se tornar cada vez mais velho.
"Se nós compararmos nos anos 70, o índice de êxodo rural era muito maior, mas também a população no meio rural era maior. Agora, o que se percebe é que o número de pessoas nas famílias vem sendo reduzido no último período. E a nossa maior preocupação, quando se fala em agricultura familiar, é a sucessão. É quando na maioria das famílias do campo ficam somente os pais, os filhos já foram trabalhar na cidade. A perspectiva pra frente é preocupante", diz.
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