Desde 1987, a cada nove meses ocorre um grande escândalo no setor financeiro. A conta foi feita pelo economista Delfim Netto para mostrar que o setor é tão ou mais sujeito a atos irregulares do que a indústria e precisa ser mais regulado pelo Estado para evitar essa sucessão de problemas. A reportagem é de Guilherme de Barros e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 29-01-2008.
"Estamos comemorando o sexto aniversário do escândalo da Enron e todo mundo acreditava até agora que a patifaria só acontecia no setor industrial, o que é um grande engano", diz. "O setor financeiro é até mais hábil do que a indústria na produção de escândalos."
A atual crise financeira tem sido usada também como argumento para questionar o atual modelo econômico, que condena uma presença mais forte do Estado na economia.
Nos últimos dias, o mundo tem assistido a declarações que contrariam o "status quo".
O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn, defendeu, durante o Fórum Mundial da Economia, em Davos, o aumento dos gastos públicos para o combate à recessão. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, por sua vez, também defendeu um maior controle do sistema financeiro.
Delfim Netto acha imprescindível a maior participação do Estado na economia. A crise, a seu ver, está desmentindo a tese de que o Estado é prejudicial à economia.
"Essa crise está mostrando que é um erro achar que o Estado destrói a economia. Como o setor privado não tem princípio ético interno, não tem interesse em adotar mecanismos de auto-regulação", diz.
Delfim também acha "conversa para boi dormir" a história da preocupação das autoridades econômicas com o chamado "risco moral" (do inglês "moral hazard"), que é o termo usado para designar comportamento arriscado por parte de investidores e países devedores com base num excesso de confiança nos bancos centrais.
Quando a crise ameaçou levar o país à recessão, Delfim diz que o banco central americano não se preocupou, em nenhum momento, com o "risco moral". Agora, está tentando ao máximo livrar o país de uma desaceleração mais forte.
Outra crítica que Delfim faz ao setor financeiro é ao sistema de concessão de bônus por performance, o que fez com que muitos bancos alavancassem os empréstimo para aumentar os ganhos de seus executivos.
Ele acha, por exemplo, que foi isso que provocou o rombo de 4,9 bilhões no Société Générale.
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