A contribuição dos agrocombustíveis para estancar o aquecimento global pode não ser tão grande quanto se propagandeia mundo afora. Essa é uma das conclusões do Seminário sobre “Agrocombustíveis e desenvolvimento sustentável”, realizado nos dias 28 e 29 de janeiro, em Grenobla, na França. Em alguns casos pode ser trocar seis por meia dúzia. Pior, os impactos ambientais e sociais não são nada desprezíveis.
Diante dos limites, “o melhor meio é de fato diminuir o consumo de energia”, resumiu Patrick Criqui, da Universidade de Grenoble, e um dos participantes do Seminário. Segue a íntegra de matéria de Hervé Kempf publicada no Le Monde, 02-02-2008. A tradução é do Cepat.
Como foi possível se comprometer tão rapidamente com a produção de agrocombustíveis? Esta é a pergunta que se fizeram, um pouco confusos, cerca de 50 pesquisadores e especialistas que participaram de um seminário sobre “Agrocombustíveis e desenvolvimento sustentável”, organizado em Grenoble pelo serviço de pesquisa do Ministério da Ecologia, nos dias 28 e 29 de janeiro.
Em 2003, os principais países ocidentais comprometeram-se com a elaboração de ambiciosos planos de desenvolvimento dos agrocombustíveis. Desde então, sucederam-se estudos que, no essencial, desmentiram o interesse ambiental. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a ONU, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e a Câmara dos Comuns britânica produziram relatórios críticos, assim como numerosos artigos científicos.
“Os estudos de balanço energético dos trâmites apresentam enormes diferenças”, sublinhou Jean-Christophe Bureau, do Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica (INRA). Vai-se assim de um ganho de onze unidades de energia produzidas para um consumo na cadeia de produção de agrocombustíveis, a uma perda de seis unidades! “A análise global desses estudos”, prosseguiu Bureau, “leva à conclusão de que o custo da tonelada de dejetos de CO2 poupada (pela substituição de hidrocarburantes de origem fóssil) é bem superior ao que é recomendado”. Atinge 330 euros para o etanol de origem vegetal, quando o preço de referência na França é de 25 euros.
O impacto ambiental do desenvolvimento projetado dos agrocombustíveis é notável. Na Europa, se faria pela cultura dos pousios. “Ora, numerosas espécies de plantas ou de pássaros já estão em situação precária. As medidas de proteção beneficiaram em muito os pousios”, indica Serge Muller, da Universidade de Metz. “O desenvolvimento dos agrocombustíveis é incompatível com o empenho internacional que levou a França a propor o estancamento da erosão da biodiversidade em 2010”.
Resultados surpreendentes apareceram. Assim, em razão de uma má combustão, alguns agrocombustíveis poderão levar a um aumento das emissões de poluentes atmosféricos, como o protóxido de azoto. Igualmente, pelo fato de que a colza absorve mal o adubo azotado, seu desenvolvimento em cultura energética corre o risco de provocar um aumento da poluição da água.
Quanto aos agrocombustíveis nos países tropicais, se apresentarem rendimentos energéticos bem melhores (especialmente a cana-de-açúcar), seu desenvolvimento se produz em parte pelo desmatamento. A concorrência com as culturas alimentares pode também ser prejudicial para os mais pobres, ao jogar os preços dos alimentos para cima. Ao contrário, quando bem feita, a utilização da biomassa poderia fornecer empregos para os camponeses do Sul, que estão substancialmente em falta, sublinhou o economista Ignacy Sachs.
De fato, o desenvolvimento dos agrocombustíveis foi amplamente motivado pela vontade de sustentar os produtores de cereais, mal das pernas nos dois lados do Atlântico devido à diminuição das subvenções. “Quando, em 2003, foi tomada na França de lançar o plano”, disse Claude Roy, coordenador interministerial para a biomassa, “não medimos todos os impactos sobre os mercados agrícolas e sobre a biodiversidade. Mas essas moléculas também são úteis para a química: a verdade lógica é ir ao encontro da química verde”.
Conclui-se que, no que diz respeito à prevenção da mudança climática, os agrocombustíveis parecem ser de interesse limitado. “O melhor meio é de fato diminuir o consumo de energia”, resumiu Patrick Criqui, da Universidade de Grenoble. Uma outra conclusão do seminário foi a fragilidade dos instrumentos de avaliação ambiental, social e econômica, que leva os políticos a tomarem decisões mal informadas.
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