Uma série de e-mails tornados públicos ontem pelo Congresso dos EUA revela que o banco Goldman Sachs comemorou a derrocada do mercado imobiliário nos EUA e chegou a ganhar US$ 51 milhões em um único dia apostando na piora da crise em 2007.
A reportagem é de Fernando Canzian e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 25-04-2010.
As mensagens, escritas por seus executivos, contrariam as alegações do banco segundo as quais a instituição perdeu dinheiro com a crise.
O Goldman está sendo processado pela SEC (a CVM americana) exatamente pela suspeita de que montou um fundo, chamado Abacus 2007, para apostar na queda dos preços dos imóveis nos EUA.
Com a participação de um outro fundo de investimentos, o Paulson, as operações teriam causado prejuízos de mais de US$ 1 bilhão a vários investidores, dentro e fora dos EUA.
Os e-mails apresentados pelo subcomitê de Investigações Financeiras do Congresso revelam que os executivos diziam estar fazendo "dinheiro grosso" ("serious money") com a derrocada do mercado.
O próprio presidente do Goldman, Lloyd Blankfein, escreveu: "É claro que não provocamos a crise. Até perdemos dinheiro, mas depois ganhamos mais do que perdemos".
Em outra mensagem, de meados de 2007, o chefe do departamento financeiro do Goldman, David Viniar, afirma que o banco ganhou US$ 51 milhões em um único dia apostando que o mercado de hipotecas iria derreter.
Na próxima terça, executivos do Goldman terão de ir ao Congresso para esclarecer o papel que tiveram na crise.
O chefe do comitê que revelou os e-mails, o senador democrata Carl Levin, fez um resumo da sua visão sobre o caso:
"Nossa investigação revela que bancos como o Goldman Sachs não estavam ajudando seus clientes. Eles tinham interesses próprios em operações arriscadas e complicadas que levaram à crise de 2008".
"Empacotaram "ativos tóxicos" e de valor duvidoso em instrumentos financeiros complexos, obtiveram selos AAA das agências de classificação de risco e os venderam a investidores, espalhando o risco pelo mercado financeiro."
"Em muitos casos", continua, "apostaram contra os mesmos produtos que vendiam a seus clientes, lucrando à custa das perdas deles."
A revelação ocorreu ao final de uma semana em que tanto o presidente dos EUA, Barack Obama, como os ministros das Finanças que fazem parte do G20 (grupo das maiores economias do mundo), reunidos no FMI (Fundo Monetário Internacional), pressionaram para que o projeto de apertar a regulamentação do sistema financeiro seja levado a cabo.
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