"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, maio 01, 2010

Permissividade na Lima e Silva

miltonribeiro.opsblog.org -Apr 20th, 2010

Não gosto do ranço moral a palavra “permissividade”, até porque a situação é mais grave do que indica o termo, mas não há nada de absurdo na nota abaixo, escrita por Carlos Schmidt, proprietário do Guion Cinemas. É tudo verdade e muito perigoso. Faz duas semanas, fui ao Guion da Lima e Silva e aguardamos, eu e meu filho, que minha mulher e filha viessem do outro Guion, o do aeroporto, buscar-nos. Tínhamos escolhido filmes diferentes que começavam no mesmo horário: nós, A Todo Volume; elas, Os homens que encaravam cabras. Ficamos na calçada da Lima e Silva, vendo passar uma fauna deveras interessante a um antropólogo, mas da qual mortais dotados de instinto de preservação acostumaram a evitar. Não somos, nem eu, nem ele, muito cagões, e começamos a fazer piadas:

– Qualquer abordagem eu te dou um beijo. Afinal, tu é o meu guri…

E, com efeito, um grupo mais ameaçador se aproximou e a gente ficou bem juntinho. Como proteção, claro…

Tenho a inteligência de ser sócio do Guion e pagar bem menos para ir ao cinema. Vou duas ou três vezes por semana ao Nova Olaria. Sei que a confusão é restrita aos domingos, mas que confusão, senhores!!! Começou bonitinha, como uma reunião de homossexuais que utilizavam a Lima e Silva e o shopping Nova Olaria (onde fica o Guion) — como local de encontros. Eu era simpático àquilo. Tornou-se também hererossexual e agora é flagrantemente um local de compra e venda de drogas. Os carros passam pedindo passagem à horda — a rua é dela, pois não? — e em apenas uma fila, formando enorme engarrafamento. Atrapalhada todo mundo, como poderemos ler abaixo. O cúmulo mesmo é que entramos numa blitz na Lima e Silva em plena quinta-feira. Perdemos 30 minutos até nos livrarmos da Brigada Militar, esta mesma que NÃO vai à Lima e Silva aos domingos, preferindo outras paragens quaisquer. É um absurdo e sou solidário ao Carlos Schmidt — uma pessoa tranquila, razoável, gentil e cheia de bom senso — nesta reorganização dominical da rua preferida da cidade.

Afinla, a cultura só faz recuar neste estado. Se o Guion fechar (entre neste link), todos nós acabaremos nos shoppings vendo apenas blockbusters? Não, Carlos, não faça isso conosco. Vamos brigar. Já basta o fechamento sorrateiro da Sala Norberto Lubisco. Abaixo, antes da nota do Carlos, copio um comentário deixado no Facebook do Guion:

Carlos
Como moradora há 11 anos do bairro, me solidarizo com esta iniciativa, porque nos domingos a população que ali circula e reside fica totalmente acuada, não restando opções senão ficar em casa. Não se pode ir sequer ao supermercado ou farmácia, porque o perigo está à espreita de quem se arrisca a fazê-lo. Sem contar os vidros quebrados que ficam pelas ruas, só pra não entrar na seara escatológica. Levando em conta as várias matérias que saíram, inclusive de TV, sobre o assunto, não acredito mais em solução para isto. Mas tomara que eu esteja errada.
Um abraço

Vera Pinto
Jornalista

E aqui, finalmente o texto do Carlos Schmidt:

Permissividade na Lima e Silva

Neste domingo, em respeito ao nosso público e em protesto, não daremos a tradicional sessão das 22h no Guion Center Cinemas. O descaso e a negligência do poder público permitiu uma permissiva aglomeração na Rua Lima e Silva, o que impede e oprime quem tentar usar de seu direito de ir e vir.

Constantes solicitações foram feitas ao poder público nos diversos setores da Infância e Adolescência, Brigada Militar , EPTC, etc. Estes setores devem estar esperando que aconteça algum incidente trágico para daí tomar uma atitude que preserve o comezinho direito de ir e vir do cidadão. Incidentes e verdadeiros atentados ao pudor acontecem todos os domingos, numa manifestação que indica o comércio de drogas e entorpecentes, pois tem hora para começar e para terminar, das 19h – 22h.

Vários estabelecimentos desta rua fecham suas portas nos domingos temendo pelas arruaças. Nosso próximo passo será fecharmos definitivamente o Guion Center Cinemas, pois muitos de nossos clientes acham que este “evento” acontece todos os dias e deixaram de frequentar nossas salas.

Carlos Schmidt

Entrevista de Carlos Schmidt em ZH:

Mais:

E a piada da folclórica Brigada Militar, tão briosa em outras circunstâncias: “Não seria um problema de segurança pública…”:

Consumo de drogas agora é uma questão apenas cultural?

Como morador da Cidade Baixa e frequente incomodado pela situação descrita acima (atravesso a horda todo domingo que saio com a família), faço coro às mudanças. Esse comentário da Brigada Militar é surreal, não sei de onde saiu.
Domingo passado percebi que todos os bares, além do próprio Olaria estavam fechados, e não era por preconceito cultural, era por segurança. O sentimento de insegurança que se tem ao passar pela horda é terrível pois se tem que passar acuado para evitar qualquer movimentação de repulsa por parte do grupo, neste domingo que falei acima vi meu carro ser cercado (por ter sido confundido com outro que felizmente para mim me alcançou) e nada podia fazer, mas o carro ao lado de modelo parecido e mesma cor teve garrafas arremessadas contra ele, além de ouvir ameaças. Além de toda essa situação nossas crianças não precisam ver as cenas que são expostas de forma tão explícita. Pena tão bela área de diversão estar rendida por esse grupo.

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