A eleição mais importante da economia brasileira tem data para acontecer – e não é a de 3 de outubro, que escolherá o sucessor do presidente Lula. No dia 31 de maio, a Previ, maior fundo de pensão do País, com um patrimônio de R$ 142 bilhões e tentáculos em todos os setores da economia, com investimentos em empresas como Embraer, Vale, Oi e Brasil Foods, terá um novo presidente.
A reportagem é de Denize Bacoccina e Guilherme Queiroz e publicada pelo Dinheiro, edição 28-04-2010.
O atual, Sérgio Rosa, sai para se dedicar à arrecadação de recursos da campanha de Dilma Rousseff. E sua sucessão já abriu uma guerra nos bastidores do poder em Brasília. O comando do Banco do Brasil, com apoio do ministro Guido Mantega, tem um candidato. É o vice-presidente de Novos Negócios do BB, Paulo Cafarelli.
A ala mais ligada ao PT e ao sindicato dos bancários, que hoje manda na Previ, tenta emplacar o atual diretor de participações da fundação, Joilson Ferreira. Correm por fora outros dois nomes: o de Fábio Moser, diretor de investimentos da Previ e o do vice-presidente de Gestão de Pessoas do BB, Robson Rocha. A disputa é acompanhada de perto pelo presidente Lula, que considera o cargo tão importante quanto o de um ministro. E cabe a ele a palavra final sobre o escolhido.
Os dois favoritos têm perfis distintos. Atual braço direito de Sérgio Rosa, Joilson Ferreira é visto como o “candidato natural” porque se especula sobre um mandato tampão, já que o vencedor da eleição presidencial de outubro pode querer mudar a presidência tanto do BB quanto da Previ.
Ferreira é um militante histórico do movimento sindical e também o preferido do ex-presidente do PT Ricardo Berzoini. Seu principal concorrente, Paulo Cafarelli, entrou no banco como menor aprendiz e é homem de confiança do atual presidente, Aldemir Bendine, bem como do ex-ministro Antônio Palocci, hoje um de seus cabos eleitorais.
Muitos avaliam que um candidato com perfil técnico, como Cafarelli, seria o mais adequado para o atual momento da Previ. Mas o vice-presidente do BB enfrenta resistências no PT. Nesse cenário, cresce o nome de Robson Rocha, um petista que progrediu na carreira negociando o fim de greves com o movimento sindical. Mineiro, ele é próximo de Luiz Dulci, secretário-geral da Presidência da República e é considerado um funcionário capacitado, com especialização em marketing e administração.
Na Previ, foi chefe de gabinete de Sérgio Rosa e hoje ocupa a presidência do Conselho Deliberativo do fundo. Com menos chances de vitória, desponta Fábio Moser, um funcionário do BB, que já foi diretor da Brasil Telecom.
O novo presidente terá a difícil tarefa de conciliar a rentabilidade do fundo, enquanto atende aos pedidos do presidente Lula para ajudar na formação de grandes grupos nacionais. Função desempenhada com sucesso por Sérgio Rosa, que conseguiu multiplicar o patrimônio da instituição, de R$ 43,5 bilhões para R$ 142,6 bilhões, em sete anos de administração, e também passou a ocupar mais espaços nas empresas onde tem participação acionária.
Na Vale, com 22% das ações, ele preside o conselho de administração. Na Neoenergia, com 49% do capital, participa das decisões estratégicas. O fundo tem ainda 180 conselheiros que atuam nas assembleias de empresas como AmBev, Bradesco, Brasil Foods, Cemig, TIM e Souza Cruz.
“Qualquer movimento da Previ é sentido, porque o fundo ou controla ou tem participação importante nas grandes empresas. E o novo presidente, certamente, ocupará uma das posições de maior destaque na economia brasileira”, diz Wagner Salaverry, do Banco Geração Futuro de Investimentos.
O escolhido no fim de maio controlará também um superávit que se acumulou com o bom desempenho do fundo nos últimos anos (com exceção de 2008) e chega a R$ 44 bilhões, dos quais R$ 26 bilhões ainda têm destino incerto e poderão até ser distribuídos entre os associados. Além da escolha do presidente, serão trocadas, em maio, três das seis diretorias da Previ.
É algo para se acompanhar de perto. Tal poder econômico pode ser utilizado em benefício social ou privilegiar os bolsos particulares.
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