Os perigos das nanotecnologias ainda são desconhecidos
É preciso ter medo para entrar na civilização do nanomundo? Nos últimos meses vêm se multiplicando os relatórios de especialistas e artigos científicos que pontuam os perigos para a saúde e o meio ambiente da fabricação e da utilização de objetos de tamanho nanométrico. O artigo é de Pierre Le Hir e foi publicado no joranl Le Monde, 5-12-06 e traduzido pelo Cepat.
A Agência Francesa de Segurança Sanitária do Meio Ambiente e do Trabalho (Afsset) estimava, em junho, que “os estudos toxicológicos, in vitro e em animais, são ainda muito poucos, mas estabelecem a existência de potenciais riscos de toxicidade”. Em julho, o Comitê de Prevenção e de Precaução (CPP), implantado pelo ministro encarregado do meio ambiente, alertava: “Múltiplos argumentos indicam a existência de uma reatividade particular das nanopartículas em decorrência de seu pequeníssimo tamanho. Esta reatividade celular e dos tecidos pode constituir um perigo para o homem quando exposto aos materiais por inalação, ingestão ou passagem transcutânea”. Em outubro, foi a vez do Comitê de Ética do CNRS propor uma “vigilância ética e social”.
As nanotecnologias não estão mais isoladas nas salas brancas dos laboratórios. Já é possível encontrar – sem que quase ninguém saiba – nanopartículas em múltiplos objetos ou produtos do nosso cotidiano: nanotubos de carbono (cem vezes mais resistentes e seis vezes mais leves que o aço) em raquetes de tênis e em bicicletas; nanopartículas de dióxido de titânio em tintas e em cremes solares; óxido de carbono em pneus; silício em vernis de automóveis ou produtos para lavar vidros; prata em alguns cateteres...
Os fabricantes de têxteis modificam as fibras em escala nanométrica para lhes conferir propriedades tais que roupas com esses materiais não precisam ser lavadas nem passadas ou mesmo para melhorar seu conforto térmico. Empresas agro-alimentares comercializam nanocápsulas que melhoram a difusão dos nutrientes nos tecidos humanos. A indústria farmacêutica procura melhorar a absorção e a eficácia de medicamentos por meio de uma granulometria nanométrica. “Entre 500 e 700 produtos disponíveis no mercado contêm nanopartículas”, calcula Patrick Brochard, toxicólogo no CHU de Bordeaux e membro do CPP. E o mercado desses produtos tende a explodir nos próximos anos.
Todo o problema vem do pequeníssimo tamanho das partículas em jogo. Na escala do nanômetro – bilionésima parte do metro, ou seja, seis vezes o tamanho de um átomo – entra-se num novo estado da matéria, das propriedades químicas, elétricas e magnéticas, radicalmente novo. A proporção de átomos distribuídos na superfície de um objeto ou de um componente nanométrico é naturalmente maior do que num objeto de tamanho maior. E esses átomos de superfície, que não são ligados a outros átomos, são mais reativos. É exatamente isso que confere aos nanoelementos as propriedades – durabilidade, resistência, adesão ou repulsão... – procuradas pelas indústrias.
Ora, essas minúsculas partículas podem quebrar barreiras corporais dadas como invioláveis: a barreira alvéolo-capilar, a barreira hematoencefálica, muitas vezes a barreira placentária. “O dióxido de titânio de alguns produtos cosméticos, por exemplo, normalmente considerado amorfo, torna-se reativo abaixo de 100 nanômetros. Se ele penetra na pele, provoca um estresse ao oxidar células, provocando uma reação inflamatória dos tecidos”, descreve Patrick Brochard. As nanopartículas inaladas podem “se assentar no fundo do aparelho respiratório, passar para o sangue e se espalhar por todo o organismo”.
Mesmo que os estudos científicos ainda estejam cheios de lacunas, experiências realizadas fazem aparecer reações inflamatórias nos pulmões, nas paredes dos vasos sanguíneos e no cérebro. “Esses resultados foram obtidos com concentrações de nanopartículas bem acima daquelas a que o homem é suscetível de ser exposto”, precisa o toxicólogo. “É, portanto, impossível afirmar se existe risco sanitário. Mas, ao extrapolar do animal ao homem, há motivos para ficar inquieto”.
A mesma inquietude prevalece quando o assunto é a disseminação dessas partículas nos ecossistemas. Mais do que uma moratória, pesquisadores e especialistas recomendam um enquadramento estrito desses novos filões industriais, garantindo a traçabilidade dos nanomateriais, desde a fabricação até sua eliminação.
Na revista Nature de 16 de novembro, quinze cientistas enunciam os “grandes desafios” a serem enfrentados a fim de promover “nanotecnologias responsáveis”. Eles preconizam o desenvolvimento de instrumentos para medir a exposição aos nanomateriais presentes no ar e na água, métodos de avaliação de sua toxicidade, assim como modelos para prever seu impacto sobre o meio ambiente e a saúde humana. Assim que se pode dizer que está tudo por se fazer.
É preciso ter medo para entrar na civilização do nanomundo? Nos últimos meses vêm se multiplicando os relatórios de especialistas e artigos científicos que pontuam os perigos para a saúde e o meio ambiente da fabricação e da utilização de objetos de tamanho nanométrico. O artigo é de Pierre Le Hir e foi publicado no joranl Le Monde, 5-12-06 e traduzido pelo Cepat.
A Agência Francesa de Segurança Sanitária do Meio Ambiente e do Trabalho (Afsset) estimava, em junho, que “os estudos toxicológicos, in vitro e em animais, são ainda muito poucos, mas estabelecem a existência de potenciais riscos de toxicidade”. Em julho, o Comitê de Prevenção e de Precaução (CPP), implantado pelo ministro encarregado do meio ambiente, alertava: “Múltiplos argumentos indicam a existência de uma reatividade particular das nanopartículas em decorrência de seu pequeníssimo tamanho. Esta reatividade celular e dos tecidos pode constituir um perigo para o homem quando exposto aos materiais por inalação, ingestão ou passagem transcutânea”. Em outubro, foi a vez do Comitê de Ética do CNRS propor uma “vigilância ética e social”.
As nanotecnologias não estão mais isoladas nas salas brancas dos laboratórios. Já é possível encontrar – sem que quase ninguém saiba – nanopartículas em múltiplos objetos ou produtos do nosso cotidiano: nanotubos de carbono (cem vezes mais resistentes e seis vezes mais leves que o aço) em raquetes de tênis e em bicicletas; nanopartículas de dióxido de titânio em tintas e em cremes solares; óxido de carbono em pneus; silício em vernis de automóveis ou produtos para lavar vidros; prata em alguns cateteres...
Os fabricantes de têxteis modificam as fibras em escala nanométrica para lhes conferir propriedades tais que roupas com esses materiais não precisam ser lavadas nem passadas ou mesmo para melhorar seu conforto térmico. Empresas agro-alimentares comercializam nanocápsulas que melhoram a difusão dos nutrientes nos tecidos humanos. A indústria farmacêutica procura melhorar a absorção e a eficácia de medicamentos por meio de uma granulometria nanométrica. “Entre 500 e 700 produtos disponíveis no mercado contêm nanopartículas”, calcula Patrick Brochard, toxicólogo no CHU de Bordeaux e membro do CPP. E o mercado desses produtos tende a explodir nos próximos anos.
Todo o problema vem do pequeníssimo tamanho das partículas em jogo. Na escala do nanômetro – bilionésima parte do metro, ou seja, seis vezes o tamanho de um átomo – entra-se num novo estado da matéria, das propriedades químicas, elétricas e magnéticas, radicalmente novo. A proporção de átomos distribuídos na superfície de um objeto ou de um componente nanométrico é naturalmente maior do que num objeto de tamanho maior. E esses átomos de superfície, que não são ligados a outros átomos, são mais reativos. É exatamente isso que confere aos nanoelementos as propriedades – durabilidade, resistência, adesão ou repulsão... – procuradas pelas indústrias.
Ora, essas minúsculas partículas podem quebrar barreiras corporais dadas como invioláveis: a barreira alvéolo-capilar, a barreira hematoencefálica, muitas vezes a barreira placentária. “O dióxido de titânio de alguns produtos cosméticos, por exemplo, normalmente considerado amorfo, torna-se reativo abaixo de 100 nanômetros. Se ele penetra na pele, provoca um estresse ao oxidar células, provocando uma reação inflamatória dos tecidos”, descreve Patrick Brochard. As nanopartículas inaladas podem “se assentar no fundo do aparelho respiratório, passar para o sangue e se espalhar por todo o organismo”.
Mesmo que os estudos científicos ainda estejam cheios de lacunas, experiências realizadas fazem aparecer reações inflamatórias nos pulmões, nas paredes dos vasos sanguíneos e no cérebro. “Esses resultados foram obtidos com concentrações de nanopartículas bem acima daquelas a que o homem é suscetível de ser exposto”, precisa o toxicólogo. “É, portanto, impossível afirmar se existe risco sanitário. Mas, ao extrapolar do animal ao homem, há motivos para ficar inquieto”.
A mesma inquietude prevalece quando o assunto é a disseminação dessas partículas nos ecossistemas. Mais do que uma moratória, pesquisadores e especialistas recomendam um enquadramento estrito desses novos filões industriais, garantindo a traçabilidade dos nanomateriais, desde a fabricação até sua eliminação.
Na revista Nature de 16 de novembro, quinze cientistas enunciam os “grandes desafios” a serem enfrentados a fim de promover “nanotecnologias responsáveis”. Eles preconizam o desenvolvimento de instrumentos para medir a exposição aos nanomateriais presentes no ar e na água, métodos de avaliação de sua toxicidade, assim como modelos para prever seu impacto sobre o meio ambiente e a saúde humana. Assim que se pode dizer que está tudo por se fazer.
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