"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 05/02/07

EUA: O etanol como estratégia de aproximação com o Brasil para isolar Chávez


O Departamento de Estado norte-americano envia ao Brasil nesta semana dois de seus funcionários mais graduados: o subsecretário para Assuntos Políticos, Nicholas Burns, terceiro na hierarquia, e o secretário-adjunto para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon. A informação é de Sérgio Dávila, correspondente da Folha de S.Paulo, 5-02-2007.

A missão oficial da dupla é discutir parcerias entre os dois países em torno do etanol e de biocombustíveis e acertar detalhes do encontro dos dois presidentes, George W. Bush e Luiz Inácio Lula da Silva, previsto para ocorrer ainda neste semestre em Washington.

A visita, no entanto, marca também a tentativa da Casa Branca de recuperar a influência numa região que foi considerada "prioridade" por Bush em discurso no início de seu primeiro governo, em 2001, mas que foi relegada a segundo plano desde o 11 de Setembro.

A idéia é usar uma agenda comum entre ambos os governos - o etanol - como maneira de atrair o presidente Lula para a causa dos EUA: neutralizar o peso na região do cada vez mais influente líder venezuelano, Hugo Chávez. A viagem dos emissários foi antecedida por declarações de pesos-pesados da chancelaria americana.

Em entrevista recente, a subsecretária para diplomacia pública e assuntos externos, Karen Hughes, citou uma "grande iniciativa para o Hemisfério Ocidental" prevista para 2007. O objetivo, disse, é que os EUA "façam mais e se comuniquem melhor com os países latino-americanos".

Segundo ela, o presidente dobrou recentemente a ajuda à região, mas a população local não sabe porque a imprensa não fala a respeito. Na verdade, de acordo com dados da Agência Norte-Americana para Desenvolvimento Internacional (Usaid, pela sigla em inglês), o governo Bush pediu que o Congresso aprove US$ 822 milhões em ajuda não-militar para a América Latina neste ano - ou 8,3% menos do que o pedido em 2003.

Durante palestra no fim do mês passado, Thomas Shannon bateu na mesma tecla. Depois de falar que Burns e ele descrevem 2007 como "o ano do compromisso" dos EUA com a América Latina, o secretário-adjunto afirmou: "Com tantos novos governos na região, alguns com rostos conhecidos, mas outros com rostos novos, temos de retornar lá e reconstruir nosso diálogo, reconectarmos não só com governos mas com sociedades".

Em sua audiência de confirmação no Senado como segundo de Condoleezza Rice, John Negroponte disse que reforçaria a política para América Latina. Ex-embaixador no México e em Honduras, afirmou que Chávez "não é uma força construtiva" para a democracia e que suas ações "ameaçam a democracia na região". O que preocupa a Casa Branca é o discurso cada vez mais antiamericano de Chávez, o quarto maior fornecedor de petróleo dos EUA, quando a palavra de ordem em Washington é independência energética. A gota d'água teria sido o estreitamento de relações entre Irã e Venezuela.

Nos últimos meses, os dois governos assinaram 131 contratos, convênios ou declarações de intenção. Além disso, Teerã e Caracas querem montar um mecanismo financeiro alternativo ao Fundo Monetário Internacional. Isso acontece num momento em que o governo Bush escala sua retórica e toma ações concretas contra o Irã.

Indagado na semana passada por jornalistas se o Departamento de Estado não se preocupava com a hipótese de as visitas do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, significarem também a implantação de células do Hizbollah na Venezuela, o porta-voz Sean McCormack desconversou.

"O Irã criou o Hizbollah", disse. "Não posso dizer exatamente qual o estado dessa ligação, mas há claramente uma ligação orgânica." Depois, diria que um relatório do Departamento do Tesouro que aponta que a organização islâmica tem atividades na Tríplice Fronteira é "uma preocupação clara".

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