Nicholas Burns e Thomas Shannon, graduados funcionários do Departamento de Estado, chegam hoje ao Brasil com a clara missão de fortalecer o papel do governo Lula na América Latina como maneira de neutralizar a influência crescente de Hugo Chávez na região. O comentário é de Sérgio Dávila, correspondente da Folha de S.Paulo, 06-02-2007 em Washington.
Eis a sua análise
Dois dos funcionários mais graduados do Departamento de Estado norte-americano desembarcam hoje ao Brasil com a missão de fortalecer o papel de liderança do país na América Latina. Para tanto, estão dispostos a colocar na mesa uma proposta mais fechada em relação ao etanol brasileiro e até a ouvir sugestões em relação à política norte-americana para a ampliação do Conselho de Segurança da ONU.
É o que disseram em entrevista ontem, em Washington, Nicholas Burns, subsecretário para Assuntos Políticos e terceiro na hierarquia do departamento de Condoleezza Rice, e Thomas Shannon, responsável pela América Latina. Os dois chegam hoje a São Paulo para uma visita de três dias que termina na quinta-feira, com a ida do grupo para Buenos Aires.
"Nós nos concentramos em nossos amigos, nós nos concentramos nos países com os quais nós trabalhamos", disse Burns, indagado sobre Hugo Chávez. "E Brasil e Argentina são dois dos países mais fortes do hemisfério, então trabalhamos com eles." O embaixador disse não esperar "que a Venezuela participe de nossas discussões, talvez brevemente, mas não como ponto principal".
Os dois funcionários desviaram o foco do assunto ("Hugo Chávez não está em nossos pensamentos", disse Burns), mas é fato que os EUA querem fortalecer o papel do governo Lula na América Latina como maneira de neutralizar a influência crescente de Hugo Chávez e de seu discurso antiamericano na região, que encontra cada vez mais ressonância, principalmente na Bolívia e no Equador.
"Reconhecemos que há vários países da região passando por transformações políticas importantes", declarou Thomas Shannon. "Queremos garantir que tenhamos um papel de ajuda nesse processo, queremos aproveitar a posição privilegiada que o Brasil e a Argentina têm na região para entender melhor o que está acontecendo."
Para o secretário para a América Latina, 2007 é "o ano do compromisso" dos EUA com a América Latina. "Não quero dizer com isso que 2006 tenha sido do descompromisso, mas foi o ano das eleições", brincou. Eleições que passaram o recado de que há um consenso amplo a favor da democracia e do livre comércio e da cooperação com os Estados Unidos, segundo a leitura que fez Burns.
E a Venezuela, que reelegeu Hugo Chávez? "Há alguns países isolados, Cuba sendo um deles, Venezuela certamente outro, que têm idéias muito diferentes do que nós não enxergamos como sendo parte do pensamento dominante latino-americano", avaliou Burns.
Em relação ao etanol, respondendo a uma pergunta da Folha, Burns disse que não haverá um anúncio de um plano para o setor. "Eu não vou ao Brasil para negociar um acordo de biocombustíveis", disse. "Mas há tantas discussões de colaborações entre Brasil e EUA nesse setor que nós queremos nos concentrar no que é realizável."
Sobre a vaga que o Brasil pleiteia como membro permanente no Conselho de Segurança da ONU, Burns concedeu: "Até hoje apoiamos o Japão, mas já dissemos que apoiamos uma expansão do Conselho, talvez para mais quatro ou cinco membros, permanentes ou não". Sobre a participação do Brasil, diria ainda: "Estamos prontos para falar com o Brasil sobre o que podemos fazer para ser um parceiro mais forte nas Nações Unidas. Estamos dispostos a ouvir e ver que fórmula o Brasil propõe."
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