"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 05/02/07

O mundo está assistindo a sexta grande onda de extinção de todos os tempos


Com os resultados apresentados na sexta-feira em Paris pelo IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima), o mundo já sabe que a culpa pelas aceleradas alterações climáticas das últimas décadas é do próprio homem.

Mas, conforme mostram as últimas análises do IGBP (Programa Internacional Geosfera-Biosfera, na sigla em inglês), as várias outras alterações em curso na Terra também devem ser debitadas na conta dos humanos. O alerta desse grupo de cientistas, presidido pelo brasileiro Carlos Nobre, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), é bem claro. A notícia é da Folha de S.Paulo, 5-02—2007.

As mudanças climáticas são apenas uma das causas que estão estressando o planeta. Existem várias outras que precisam ser estudadas e levadas também em consideração. "O estudo da Terra como um sistema (com a terra representada pela geosfera e a vida pela biosfera), onde se olha não apenas para o clima, mas para as mudanças nos oceanos e no uso do solo, e para o papel que os humanos desempenham em tudo isso, é fundamental para que possamos construir um planeta sustentável", disse na sexta-feira Kevin Noone, diretor do IGBP.

A partir dessa visão sistêmica, os dados mais recentes que emergiram dos trabalhos de pesquisa do grupo internacional revelam que existem problemas em todos os lugares. Na terra, por exemplo, 50% da superfície do planeta, hoje, está domesticada de forma direta pelo homem. Esse uso indevido do solo gera erosões nas grandes cidades até diminuição nas dimensões das praias nas zonas litorâneas.

No mar, a pesca predatória já ocorre sobre 75% das espécies de valor comercial. Além disso, a atmosfera, por causa também do homem, apresenta uma variabilidade que foge dos padrões naturais existentes nos últimos 650 mil anos. A extinção das espécies vegetais e animais também atingiu padrões irreais neste século.

Os cientistas do IGBP concordam que o mundo está assistindo a sexta grande onda de extinção de todos os tempos. Para Noone, o último relatório do IPCC reforça também a importância da abordagem sistêmica proposta por ele. "Nossa visão é que precisamos considerar as interações entre terra, atmosfera, água, gelo, vida animal, sociedades humanas, tecnologias e economias. Tudo isso em escalas geográfica e temporal", defende.

Águas geladas

Enquanto os políticos tentam agora criar formas de combater o aquecimento global, e os eventos extremos começam a ocorrer, como a enchente em Jacarta, Indonésia, nesses últimos dias - a pior dos últimos cinco anos pelo menos -, novas evidências científicas do estresse vão surgindo.

Um dos artigos publicados na última edição da revista científica "Science" ilustram a importância sistêmica realçada pelos pesquisadores do IGBP. Em várias partes do mundo, como no litoral chileno e mesmo na região de Cabo Frio, na costa fluminense, existem as chamadas zonas de ressurgência. Águas frias, ricas em nutrientes, que emergem até a superfície do mar.

Conclusão prática desse fenômeno? No total, 20% da pesca mundial com fins comerciais ocorrem nessas zonas, apesar de elas cobrirem menos de 1% da superfície oceânica. Os pesquisadores descobriram que em alguns desses locais, principalmente no litoral de Marrocos, as águas que chegam em áreas menos profundas estão cada vez mais geladas. E isso, por causa do aquecimento global, estaria alterado a interação entre água e ar.

Antes de qualquer tipo de comemoração, em princípio águas mais geladas poderiam trazer até mais nutrientes e, então, aumentar ainda mais a produção de pescado, é bom saber o que dizem os autores do artigo científico. Na verdade, um grupo de pesquisadores da Alemanha, Romênia e Austrália. "Nessas regiões existem um balanço complexo entre temperatura, química do oceano, circulação das águas e pressão por causa da pesca".

A autora principal do estudo, a alemã Helen McGregor, da Universidade de Bremen, não tem como dizer se essas alterações nas zonas de ressurgência - já foram obtidos registros parecidos na Califórnia, no Atlântico Sul e no Mar da Arábia-, farão com que a produção do pescado suba ou desça.

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