"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 06/02/07

“Os chineses não vão parar, eles virão”. O salve-se quem puder no setor automotivo


Fabricantes de autopeças se rendem às importações da China e empresas abrem mão da produção para trazer peças baratas. O setor automotivo se assusta com a chegada de uma montadora chinesa no Mercosul. A reportagem é da jornalista Cleide Silva para o jornal O Estado de S.Paulo, 06-02-2007.

No ano passado, a Sogefi perdeu o contrato de fornecimento de buzinas para a picape F-250, produzida pela Ford na Argentina. A montadora preferiu comprar de um produtor chinês, a preços 30% mais baixos. Para o presidente da empresa, Mário Milani, a atitude da Ford, que não é isolada, pode se ampliar e tornar inviável a produção local de várias autopeças.

O risco, diz o executivo, é de as empresas importarem cada vez mais peças da China. O passo seguinte seria trazer kits completos e só montar o carro no País. Ao mesmo tempo em que teme pelo futuro do setor de autopeças, Milani rendeu-se aos chineses e começou a importar parafusos e forjados. Com todos os custos - imposto de importação, frete e despesa portuária -, as peças chegam aqui em média 20% a 30% mais baratas que as nacionais.

“Estamos tentando fechar as portas por último”, diz Milani, que vai importar também peças de borracha para filtros de ar, combustível e óleo feitos pela Sogefi em São Bernardo, no ABC paulista. Do total de compras da Sogefi, a China representa 5%, “mas até pouco tempo não era nada”, diz Milani.

Não é só a China que está desbancando a competitividade do Brasil. Fabricantes da Índia e do Vietnã já se apresentam como potenciais fornecedores. Além dos baixos custos de produção desses países, as empresas brasileiras convivem com a política cambial que mantém o real valorizado, barateando ainda mais as importações.

Segundo Eduardo Buchain, diretor da SKF, fabricante de rolamentos e vedações em Cajamar (SP), a combinação dólar barato e custo China favorece o aumento da importação de peças forjadas iniciada em 2005. Este ano, o produto chinês, 20% mais barato que o brasileiro, representará 15% do total de forjados para rolamentos.

“A estratégia não é agradável e nem desejável pois a partir do momento em que se deixa de produzir uma peça localmente, o parque instalado é reduzido e há desemprego”, admite Buchain. “Não é o que queremos, é por sobrevivência.”

A importação de autopeças da China em 2006 aumentaram 55,5%, num ritmo superior ao da exportação, que cresceu 13,3%. Foram trazidos US$ 215 milhões em componentes para automóveis. Na mão inversa, o Brasil vendeu US$ 197,3 milhões. É a primeira vez desde 2000 que a balança foi deficitária para os brasileiros, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos (Sindipeças).

Na política do salve-se quem puder, o presidente da General Motors, Ray Young, estuda trazer modelos feitos pela GM chinesa para enfrentar concorrentes como a Chery - que vai montar carros no Uruguai e vender no Brasil -, e as vans da marca Chana, que em fevereiro serão importadas pela Districar. “Analisamos o potencial de importar ou nacionalizar o carro chinês para o Mercosul.” Ele afirma ter preocupação com carros e autopeças chinesas. “Os chineses não vão parar, eles virão.”

A Fiat importa algumas peças metálicas de pequeno e médio porte de produtores chineses que já abastecem a subsidiária local na produção do Palio. No ano passado, o presidente da Fiat, Cledorvino Belini, e Young, da GM, intimaram seus fornecedores a reduzirem custos e vários deles estão recorrendo ao mercado chinês. A mesma pressão vem de outras montadoras.

“Ganhamos novos projetos porque fomos agressivos no preço e conseguimos reduzir custos recorrendo a fornecedores da China”, diz o vice-presidente da Faurecia, Jorge Delic Júnior.

Fabricante de bancos, escapamentos e interiores com 10 unidades no País, a Faurecia importou em 2006 ferramentais de produção de painéis. Este ano, deve trazer ferramentais para peças de baixa complexidade, a preços até 30% mais baixos que os do Brasil e da Europa.

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