A mudança de sócios da Chrysler e a disputa por pedaços da General Motors, dois ícones da indústria automobilística americana, tem um peso mais do que simbólico. São sinais de uma grande mudança no jogo de forças da indústria automobilística global. Países de periferia passarão ao centro do mapa das montadoras. Marcas poderosas, que dominaram o mercado por um século, estão cedendo espaço para novos competidores, alguns deles pouco conhecidos fora de seus países de origem.
A reportagem é de Cleide Silva e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 10-05-2009.
Os Estados Unidos, líder mundial da produção de carros por décadas, já perderam o posto para o Japão, que ficará por pouco tempo no topo. Este ano, pela primeira vez, a China deve ocupar o posto. No lugar de Detroit, Xangai será a nova capital do automóvel. É na maior cidade chinesa que estão as fabricantes que ajudaram o país a aumentar em 1,6% a produção no primeiro trimestre (2,56 milhões de veículos), enquanto nos EUA as vendas despencaram 53,3% (1,17 milhão de unidades) e na Alemanha, 34,8% (1,06 milhão). No Japão, a queda foi de 49% só no primeiro bimestre (1,05 milhão de unidades), segundo dados tabulados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
O jogo entre as fabricantes é feroz. Grupos americanos como a gigante GM vão encolher, enquanto algumas europeias como Volkswagen e Fiat vão se sobressair, assim como marcas chinesas até pouco tempo desconhecidas pelo consumidor ocidental. Há um importante movimento na China entre as mais de dez fabricantes locais de se unirem em um ou dois grupos para criar uma marca internacional.
Levantamento feito pela consultoria Jato do Brasil Informações Automotivas, a pedido do Estado, mostra que a GM aparece em sexto lugar no ranking mundial de vendas no primeiro trimestre . A Toyota está em primeiro, mas como enfrenta dificuldades no Japão e nos EUA, seus maiores mercados, pode ser desbancada pela Volkswagen, que acaba de unir-se à Porsche e juntas administrarão dez marcas. O grupo é um dos poucos que está crescendo e já aparece como segunda maior no primeiro trimestre.
A Fiat está na oitava posição, mas desponta como uma das favoritas ao pódio após a aquisição de ações da Chrysler e, possivelmente, da Opel, braço da GM na Europa. Com com apoio do Brasil, seu principal mercado fora da Itália, a Fiat pode atingir produção anual de cerca de 5 milhões de veículos.
A Fiat não confirma que estuda ficar com operações da GM na América Latina e África do Sul. Só no Brasil, se a união der certo, GM e Fiat teriam 44% do mercado. Há quem duvide da capacidade financeira da Fiat em abraçar esses mercados. "A indústria passará por um grande redesenho e será muito diferente do que é hoje", confirma o presidente da Anfavea, Jackson Schneider.
Ele ressalta que haverá diferentes composições societárias, por meio de aquisições, fusões e parcerias e podem surgir outros modelos produtivos. A intenção da fabricante de autopeças Magna em disputar a Opel com a Fiat e outros grupos interessados na empresa alemã pode criar um novo formato de produção de veículos.
Num mercado mundial que está encolhendo - já foi de 70 milhões de veículos ao ano e agora não deve passar de 55 milhões -, as empresas precisam se consolidar para participar do jogo global."Vão ganhar aquelas que aproveitarem a crise para reduzir custos, se tornarem enxutas, desenvolverem melhor qualidade e investirem em tecnologia", afirma Jaime Ardila, presidente da GM do Brasil e Mercosul.
Para ele, se a GM escapar do problema atual, terá estrutura forte no futuro. "Provavelmente não será mais a número 1, mas será uma jogadora global". Ele conta com a estrutura que o grupo manteria na China - onde é líder de mercado na joint venture com a SAIC -, América Latina, África e Oriente Médio. "Ainda teremos capacidade para produzir de 6 a 7 milhões de veículos."
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