Nos quatro meses na Casa Branca, o presidente dos EUA, Barack Obama, começa a abandonar a retórica de campanha e a conviver com uma dura realidade: algumas promessas serão difíceis ou impossíveis de cumprir. Fechar a prisão de Guantánamo e acabar com as comissões militares criadas para julgar suspeitos de terrorismo são alguns compromissos que ficarão pelo caminho.
A reportagem é do jornal O Estado de S. Paulo, 16-05-2009.
O primeiro sinal do pragmatismo de Obama surgiu na quarta-feira, quando ele mudou de ideia e decidiu contestar a determinação judicial de divulgar fotos de americanos torturando presos. "As imagens incentivariam o antiamericanismo e colocariam nossas tropas em risco", justificou o presidente.
A decisão enfureceu alguns democratas, que reclamam da guinada para o centro do governo, que ainda não emplacou uma reforma das leis de imigração, não tem um plano de retirada do Afeganistão e até o cronograma para o fim das operações no Iraque está ameaçado pelo retorno da violência na região.
Obama bem que tentou. Seu primeiro ato de governo foi assinar uma ordem executiva suspendendo as comissões criadas por George W. Bush e prometendo fechar Guantánamo em um ano. Quatro meses depois, tudo continua na estaca zero.
O revés político era previsível, já que ninguém sabe o que fazer com os 240 presos da base. "Não traremos a Al-Qaeda para meu Estado", disse na semana passada Max Baucus, senador democrata de Montana.
"Para Quantico ninguém vai", disse Mark Warner, senador democrata de Virgínia, sobre a possibilidade de alojá-los numa base em seu Estado. "Alcatraz é um parque nacional, não uma prisão de terroristas", afirmou Dianne Feinstein, senadora democrata da Califórnia.
A pressão da opinião pública fez com que deputados de Louisiana, Califórnia, Mississippi, Missouri e Virgínia aprovassem leis proibindo a transferência de detentos para seus territórios. Os republicanos encaminharam um projeto ao Congresso que, se aprovado, não permitirá que detentos de Guantánamo sejam transferidos para Estados sem a aprovação de governadores e deputados estaduais.
Em abril, o senador republicano Jeff Sessions questionou a autoridade do governo federal de transferir presos para o território americano com base em uma lei federal de 2005, que proíbe a entrada nos EUA de estrangeiros que tenham envolvimento com o terrorismo.
Sem saída, o secretário de Justiça, Eric Holder, fez em abril um giro pela Europa para tentar se livrar de alguns detentos. No entanto, o máximo que conseguiu foi um aceno de britânicos e alemães, que prometeram pensar no assunto.
Há duas semanas, o secretário de Defesa, Robert Gates, reconheceu que cerca de 75 presos não poderão ser libertados nem julgados nos EUA por causa de confissões obtidas sob tortura. Ao mesmo tempo, muitos são considerados perigosos demais para serem soltos.
Além disso, nem todos podem ser devolvidos a seus países, pois correm o risco de ser mortos. Uma solução seria aprovar no Congresso uma lei permitindo que presos sejam mantidos indefinidamente sob custódia, sem julgamento, opção que causaria uma convulsão na base democrata. Para a maioria dos constitucionalistas americanos, o nó dado por Bush é impossível de desatar.
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