Ao que tudo indica o modelo de metas de inflação merece uma boa discussão no atual quadro da politica monetária. Vamos admitir que o modelo é ótimo e deve ser mantido, o que é altamente discutivel.
A aplicação do modelo está sendo feita de modo canhestro e inconsequente.
1.Se o Governo expande os gastos mais do que o crescimento da economia e isto está sendo feito de forma notória, o Governo está ciente que essa expansão é fator primário de aumento de inflação.
Se assim é, a politica monetária deve acomodar esse risco, assumido pelo Governo e não tentar neutraliza-lo por uma meta de inflação muito baixa que exigirá medidas ortodoxas na politica de juros. Não cabe ao BC esconder a folia do Governo central, porque essa alquimia vai custar muito caro à economia produtiva. Se o Governo quer inflacionar ele que corra o risco e pague o preço politico. O BC não tem que encobrir a jogada.
2.Em "INFLATION TARGETING : A NEW FRAMEWORK FOR MONETARY POLICY", trabalho de Ben Bernanke e Frederick Mishkin, há três regras que os operadores da meta devem seguir:
1.A meta só sera credivel e vitoriosa se da sua elaboração participar a Sociedade, como representação da economia real.
O público deve estar perfeitamente bem informado das decisões que levaram à meta.
2.O BC deve ser submetido a um processo de maior "accountability" quando operar com o sistema de metas. Deve dar informação e respostas prontas à Sociedade sobre o modelo, sobre a racionalia da politica monetária.
3. A meta de inflação tem que ser consistente com objetivos de estabilidade financeira e ser operada com suficiente flexibilidade para ter em consideração o emprego e a produção.
Nota-se na operação do sistema de metas pelo BC do Brasil uma atitude olimpica que não leva em conta um dos dois principios basilares apontados no paper de Bernanke e Mishkin.
O primeiro desses principios é a explicitação do "policy framework", do mecanismo de decisão do sistema.
O segundo principio é o "communitions framework", é a habilidade do BC de convencer o público de que a meta será atingida.
Ve-se no paper que cada País opera o sistema de modo muito diferente, não há dois iguais, há muita variação de modelos e de métodos.
Mas nota-se aqui a arrogancia da imposição da meta, sem discussão com ninguem, nem com os grandes nucleos do empresariado, nem com os sindicatos, nem com o Congresso, tudo é decidido intra-muros na fixação da meta (3 pessoas do CMN) e a sua operação (8 pessoas do COPOM).
Transgride-se assim um dos cânones centrais do modelo, na visão de Bernanke e Miskin, nesse célebre trabalho da American Economic Association.
Aqui economistas-de-mercado vem dizer que o modelo é internacionalmente aceito, que é ótimo, etc mas esqueceram de dizer que a versão brasileira é capenga e mal traduzida, não acomoda a economia real e é jogada goela abaixo na economia produtiva, custe o que custar. Está na hora de um bom debate sobre o modelo de metas, o teórico e a versão caseira.
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