Em documento de 32 páginas enviado à Justiça de São Paulo, onde é réu em duas ações civis por torturas que teria praticado ou ordenado nos anos 70, o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra inclui informação que reputa prova importante de que sua índole é boa e, como tal, seria incapaz de agredir semelhantes. Segundo Ustra, foi sua família quem abrigou, após a revolução de 31 de março de 1964, um jovem gaúcho que temia a repressão. A reportagem é de Fausto Macedo e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 07-08-2008.
Tarso Fernando Herz Genro era o nome daquele rapaz, segundo relata o oficial a quem as entidades de direitos humanos conferem o rótulo de símbolo dos porões. No auge dos anos de chumbo, então major, Ustra comandou o Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do antigo II Exército.
Hoje com 61 anos e ministro da Justiça, Tarso sustenta que os atos de arbítrio cometidos durante o período militar não se classificam como crimes políticos e devem ser punidos com base no Código Penal. Segundo o ministro, os agentes públicos que cometeram violências não devem ter privilégio.
Por e-mail a seus advogados, o coronel narra o episódio que diz ter sucedido há quase 40 anos. “A família que abrigou Tarso Genro foi a minha. Meu irmão José Augusto, advogado, já falecido, na época da Contra-Revolução, em 1964, era colega de colégio ou aluno da faculdade, não me recordo mais, e muito amigo do Tarso. Tarso fugiu e se refugiou em Rivera, fronteira com o Uruguai. Como nunca foi procurado, com medo de voltar ao Brasil e ser preso, pois já era um agitador do Partido Comunista, telefonou ao meu irmão e pediu socorro.”
O coronel afirma: “Como meu irmão era noivo da filha do secretário da Segurança Pública do Rio Grande do Sul, coronel Athos Teixeira Baptista, pediu ao futuro sogro que ninguém fizesse nada com o Tarso, o que aconteceu. Meu irmão foi à Rivera, apanhou Tarso e o apresentou ao coronel Athos, em Porto Alegre. O coronel intercedeu para que Tarso fizesse o NPOR (Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva) no Regimento Mallet, onde ele foi matriculado e se tornou oficial de Artilharia.”
“A personalidade de Ustra e seus familiares não se compatibiliza com torturas e violências”, acentuam os advogados dele, Paulo Esteves, Sérgio Toledo e Salo Kibrit.
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