Ficou complexa essa questão dos supostos abusos de autoridades policiais, a partir da Operação Satiagraha. Ontem o Estadão fez uma mesa redonda com Gilmar Mendes, do STF, Tarso Genro, Ministro da Justiça, Antonio Fernando de Souza, procurador-geral e Ceza Brito, da Ordem dos Advogados do Brasil (clique aqui).
Antes de ontem o delegado Protógenes deu uma entrevista à “Folha”- que está sendo malhada por jornalistas sérios, taxando-o de “populismo de direita”. Nela, o que vi foi um cidadão comum insurgindo-se contra os abusos e a impunidade nos crimes de colarinho branco.
Historicamente, sempre me posicionei contra abusos de procuradores e da PF. No meu livro “O Jornalismo dos anos 90” relato vários episódios em que procurei me colocar contra o chamado “clamor das ruas”. Em todos eles era o poder de Estado ou de polícia contra pessoas físicas.
O que ocorreu nos últimos anos, em nível mundial, no entanto, foi o aparecimento de um poder muito superior a tudo o que se conhecia até então: a aliança entre o crime organizado, setores do mercado e parte da mídia, uma mistura infernal cooptando (ou fuzilando) juízes, funcionários públicos e políticos.
O sistema de poder no país é composto por um determinado número de instituições públicas e privadas. Há os tradicionais Executivo, Legislativo e Judiciário. Depois há o poder financeiro – desde o início dos anos 90 um poder hegemônico no país -, gestores inescrupulosos administrando recursos provenientes dos mais diferentes setores, em larga margem da lavagem de dinheiro. E há a mídia, o chamado quarto poder.
A crise da desvalorização cambial fragilizou empresas de comunicação. Algumas conseguiram resolver de forma satisfatória. Outras precisaram recorrer a investimentos de fora. E aí se aliaram a grupos complicados, criando um poder quase invencível. Parte da história recente da mídia brasileira passa pelo Opportunity e Pactual – não coincidentemente envolvidos conjuntamente na Operação Satiagraha.
As reações a esse super-poder se davam de forma individual e as retaliações eram terríveis juntando a capacidade do grupo de produzir dossiês e de publicações de cometerem assassinatos de reputação. Vocês são testemunhas diárias desse jogo barra-pesada de lobistas notórios.
Juízes que ousaram enfrentar Dantas sofreram assassinato de reputação; políticos e jornalistas foram estigmatizados e sofreram escuta e espionagem. Até a Academia Brasileira de Letras foi cooptada, para que um de seus “imortais” desse um parecer vergonhoso a respeito do estilo de sentença de uma juíza.
Era uma força aparentemente invencível.
Se não fossem os juízes de Primeira Instância, os delegados, os procuradores atuando na linha de frente, com poder de escuta e de esquadrinhar, qual seria o desfecho desse jogo? Até onde iria o poder dessa aliança espúria?
Satiagraha foi uma reação a partir da consciência individual de um grupo pequeno de pessoas. Tentar ironizar entrevistas do delegado Protógenes é perda de tempo: ele correu risco no cargo e na carreira apostando em suas convicções, enquanto outros se calavam.
Nesse caso específico, sem a "espetacularização" não teria havido a Operação Satiagraha.
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