Hoje o Congresso mandou um recado aos jovens juízes, procuradores e delegados encarregados de fazer cumprir a lei no Brasil.
"Olha só o que pode acontecer com você".
Não importa que a convocação tenha partido do deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ).
Importa o papel que a instituição desempenhou.
E o Congresso brasileiro, hoje, concorreu para o constrangimento de um funcionário público de carreira que, ao que me consta, não é acusado de crime algum.
O teatro - do absurdo, obsceno, chamem do que quiserem - teve os seguintes ingredientes:
1) Quase todas as perguntas feitas ao delegado não diziam respeito ao tema que é foco da CPI: grampos, legais ou ilegais.
2) Durante uma discussão entre deputados um deles acusou colegas de não aparecerem na CPI, sugerindo que alguns estavam ali em busca dos holofotes.
3) Os deputados sabiam que o delegado não podia falar sobre o inquérito, sob segredo de Justiça. Ainda assim, muitos deles fizeram perguntas que sabiam, de antemão, que o delegado não poderia responder. Foi para tirar uma casquinha e aparecer na TV? Ou foi uma "fishing expedition"?
Fishing expedition significa, literalmente, "expedição de pesca".
É a manobra através da qual se testa o adversário, se manda sinais que só o adversário é capaz de entender, se confirma alguma informação.
Foi o que fez o deputado Arnaldo Faria de Sá, por exemplo, ao sugerir que o delegado tinha promovido uma "armação" para flagrar o suborno de um colega.
E ao perguntar, cinicamente, se de fato o delegado estava ali como "testemunha".
Deixou implícito, presumo, que o delegado poderá ser arrastado de novo, da próxima vez como réu.
Nunca vi um agente do FBI, da DEA ou do Serviço Secreto americano, depois de uma operação policial aparentemente bem sucedida, ser arrastado para o Congresso americano para ser constrangido.
O Brasil não perde a sua capacidade de se superar.
PS: A convocação do delegado, do juiz e do banqueiro para depor na CPI foi do deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR)
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