Crianças nascidas para serem vendidas ao primeiro que aparecer, para se tornarem escravas, alimentar o mercado da prostituição ou fornecer carne e ossos para rituais de bruxaria. A “fábrica de crianças”, que se escondia em uma clínica de maternidade em Enugu [capital da Nigéria], chama a atenção do mundo pelo horror e pelas dimensões do tráfico de seres humanos. A clínica foi descoberta em maio passado, mas só nestes dias os responsáveis da Naptip, a agência nacional para a proibição do tráfico de seres humanos, deram notícia a respeito.
A reportagem é de Cristina Nadotti, publicada no jornal La Repubblica, 10-11-2008. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Algumas ONGs da região começaram a levantar suspeitas da clínica, muito silenciosa e tranqüila durante o dia. E, com efeito, os recém-nascidos não permaneciam por muito tempo no edifício, vendidos por cifras entre 2 mil e 3,5 mil euros a mulheres que não desejavam suportar a vergonha da infertilidade, inconcebível para a sociedade nigeriana, ou destinados ao tráficos de órgãos, alimentado pelas superstições e a bruxaria. A responsável da seção local da Naptip, Ijeoma Okoronkwo, falou à agência France Press. “Acreditamos que existam muitas clínicas como essa e que haja uma rede que as congregue. As dimensões do tráfico de crianças são enormes e existem objetivos que não conseguimos precisar”. A agência, criada em 2004, a dois anos da aprovação da lei nigeriana contra todo tipo de tráfico humano, descobriu que centros de acolhida para mulheres, orfanatos e clínicas escondem freqüentemente esse tipo de fábricas de crianças, onde as mulheres são retidas em escravidão e violentadas para que dêem à luz o máximo possível”.
Segundo os relatórios da Unicef e da OIT, na Nigéria, pelo menos 10 crianças são vendidas a cada dia, e o país é “fonte, trânsito e destinação” do tráfico de seres humanos. Além do comércio de recém-nascidos para o mercado interno e internacional de adoções ilegais, um número enorme de crianças entre os 4 e os 12 anos são vendidas a países como o Gabão, Camarões, Benim e Arábia Saudita.
As autoridades também encontraram campos de trânsito onde os pequenos escravos são reunidos antes da seleção, freqüentemente vendidos por pais de zonas muito pobres que obtêm, em troca, até 130 euros, cifra enorme para eles. Entre os destinos finais está também a Europa: Itália, Espanha e Holanda estão entre as nações citadas pelos relatórios da Unicef e da OIT como países de chegada das crianças. Nos últimos anos, a Nigéria decidiu colaborar com as agências internacionais para combater o tráfico de crianças: em junho passado, a União Européia financiou, com um milhão de euros, um projeto de 24 meses da OIT, para combater o comércio de seres humanos.
Entretanto, como as coisas mudam, faz-se necessária uma mudança profunda de tipo econômico, cultural e social na Nigéria, onde, apesar do recrudescimento das leis, ainda é normal para as classes mais altas comprar crianças para serem usadas nos serviços domésticos, pequenas mulheres que os padrões impedem de terem qualquer direito.
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