"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, novembro 14, 2008

A revisão do crédito agrícola

Blog do Luis Nassif - 13/11/08

Coluna Econômica - 13/11/2008

Vice-presidente do Banco do Brasil, Luiz Carlos Guedes julga que a crise atual deve ser aproveitada para uma ampla mudança no modelo de crédito rural brasileiro – que acredita estar esgotado.

Hoje em dia, tradings e integradoras respondem por parte expressiva do crédito no Paraná (30%) e, especialmente, no Centro-Oeste (50%).

De julho-outubro de 2008 (em relação a 2007), o Banco do Brasil ampliou em 46% o volume de financiamento. No Paraná o aumento foi de 46% e no Mato Grosso, de 73%.

No modelo atual, o Banco do Brasil responde por 62,7% do crédito rural. Outra parte vem do Banco do Nordeste e da Amazônia. Os bancos privados operam muito pouco, normalmente com produtores de baixo risco e grandes contratos. Das 4.120 agências do Banco do Brasil, 2 mil são fundamentalmente agrícolas.

Ainda assim, não deu para cobrir o buraco deixado pelas tradings – que ficaram sem acesso aos repasses externos em função da crise global.

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Mais que isso. Os recursos para o crédito agrícola com juros controlados vêm dos depósitos à vista e da caderneta de poupança verde. Eles permitem ao sistema emprestar a 6,75%. Mesmo assim, o total emprestado corresponde a apenas 25% do custo total de produção da agricultura.

Outros 75% vêm de outras fontes, como os financiamentos das tradings, das integradoras e dos fornecedores.

Juntando todas as fontes, a taxa média do crédito agrícola salta para 15% no centro-sul e para 21% no centro-oeste. É muito.

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Faz mais sentido rever mecanismos de financiamento e aprimorá-los, diz Guedes. E mudar o foco do crédito para o da garantia de renda do agricultor.

Esse é o ponto central a se discutir daqui para frente.

A lógica do crédito agrícola é assegurar o máximo de produção possível, para garantir abastecimento interno, preços baratos e excedentes exportáveis, explica Manoel Bertone, Secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Ministério da Agricultura.

Só que essa lógica esbarra em um problema insolúvel: quanto mais bem sucedida a estratégia de aumento da produção, menos preços e menor a renda do produtor, já que no setor não existe o ganho de escala da indústria.

Quando a safra é ruim, o consumidor sofre. Quando é boa, o contribuinte sofre com os sucessivos programas de prorrogação de dívida da agricultura.

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Hoje em dia, o governo gasta em média R$ 4 bi por ano com mecanismos de equalização das taxas de juros e sustentação de preços – através da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento).

Ora, a agricultura é uma atividade de caráter biológico, diz Guedes, tem ciclos que não permitem rápida adequação do fazendeiro e o expõe aos fatores da natureza, além de ter um grande número de produtores.

Em síntese, propõe que se aprimore o seguro rural e se subsidie os mecanismo que dêem garantia de renda ao produtor. O que poderia ser feito através de subsídios à compra de opções no mercado futuro.

Mas salienta que está dando uma sugestão em caráter individual. A discussão e as propostas têm que surgir a partir do consenso entre as lideranças rurais e da cadeia agrícola, dos transformadores e produtores.

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