Em outros tempos, os países que não faziam parte do seleto clube G7 eram convidados somente para o almoço durante as cúpulas mundiais, rememora Joseph Stiglitz, 65, economista americano vencedor do prêmio Nobel. "Claro, as decisões eram tomadas antes do almoço", ri ele, "o que revelava muita arrogância e má-vontade em escutar outras vozes". A reportagem é de Denyse Godoy e publicada na Folha de S.Paulo, 11-11-2008.
Que desta vez tenha-se convocado o G20 para tentar resolver os gigantes problemas da economia mundial é um bom sinal, na sua avaliação. E a oportunidade que surge deve ser aproveitada. "Estamos, agora, em um momento único da história. As fontes de liquidez estão na Europa, na Ásia e na América Latina, e a falta de liderança dos EUA pode abrir um espaço para países como o Brasil mostrarem as suas idéias sobre o novo caminho a ser seguido", disse Stiglitz em entrevista coletiva à imprensa após dar uma palestra em São Paulo, ontem, na Expo Management. Endurecer na OMC (Organização Mundial do Comércio) contra os subsídios agrícolas é recomendável.
"A governança econômica atual não reflete a distribuição de forças na economia mundial do século 21", continuou. Por esse motivo, não bastaria - ainda que seja possível - simplesmente reformar o FMI (Fundo Monetário Internacional), como as nações emergentes pleiteiam. É necessário criar outro órgão. "A Europa pediu aos asiáticos que colocassem mais dinheiro no FMI. Se eu fosse eles, diria que não. Não faz sentido contribuir com uma entidade na qual eles não têm participação efetiva e os EUA possuem poder de veto."
Para o economista, tradicional crítico da forma como a globalização é conduzida e do que ele chama de "fundamentalismo de mercado", havendo "interesse geral de que todos joguemos mais ou menos pelas mesmas regras", as propostas devem ir além da transparência, que, na visão das autoridades dos países ricos, é o grande objetivo a ser perseguido. "É essencial proteger a segurança dos ativos financeiros e criar uma instância que fiscalize a saúde das instituições."
Dentre todas as entidades, a mais bombardeada por Stiglitz são os bancos centrais. "Este episódio mostra como é falido o seu modelo de acreditar que a estabilidade de preços é suficiente para garantir o crescimento e a prosperidade. Eles já perderam boa parte da sua eficiência em estimular a economia. Até [o presidente do BC dos EUA, Ben] Bernanke reconheceu isso, falando que precisamos de um pacote fiscal."
O futuro dos EUA
"Substituir [George W.] Bush é fácil. Ele foi tão ruim que qualquer um pode realizar coisas melhores", caçoa o economista. "No entanto, [Barack] Obama terá que administrar toda a expectativa. Por mais que faça tudo certo, ele não conseguirá mudar a situação rapidamente. As dificuldades que os EUA enfrentam hoje são resultado de anos de erros."
Uma resposta apropriada, segundo Stiglitz, teria que englobar algum tipo de socorro aos mutuários que estão perdendo as suas casas. Além disso, seria necessário um pacote de entre 2% a 3% do PIB (Produto Interno Bruto) americano, ou US$ 300 bilhões a US$ 400 bilhões, que contemplasse uma ajuda aos desempregados e aumentos de gastos com infra-estrutura. "E acompanhar de perto se os recursos de restituições de impostos são mesmo despendidos pelos cidadãos."
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