No Valor, Cláudia Safatle traz matérias com autoridades em Brasília, prevendo crédito caro e seletivo e necessidade de reduzir o déficit em transações correntes. Clique aqui
Esse quadro de crise futura, recomendando trabalhar o déficit em transações correntes, já estava claro desde o final do ano passado. A única incógnita da questão era o momento da eclosão da crise.
Agora, toca correr atrás do prejuízo:
Governo prevê crédito caro e seletivo
Claudia Safatle, de Brasília
Mesmo com o socorro bilionário lançado ao sistema financeiro pelo governo americano, os próximos meses ainda serão de grandes dificuldades. A previsão das autoridades econômicas brasileiras é de que o crédito externo será, a partir de agora e por um bom tempo, bastante seletivo e mais caro do que vinha custando antes do colapso dos bancos americanos. Na semana passada, o sistema não só fechou completamente os financiamentos ao comércio (linhas de exportações) e interbancário, como avisou aos governos e as empresas tomadoras de créditos que queriam receber a totalidade dos empréstimos no ato do seu vencimento. Ou seja, os bancos não estavam mais dispostos a rolar as dívidas.
Com o pacote de ajuda de US$ 700 bilhões que o governo dos Estados Unidos negocia com o Congresso americano, houve uma sensação de alívio para o governo brasileiro, mas "o processo de ajuste será longo" e a escassez de crédito externo, durante a fase de "desalavancagem" do sistema financeiro, poderá resultar, para o Brasil e para o resto do mundo, numa necessária redução do déficit em transações correntes do balanço de pagamentos, avaliam economistas oficiais. (...)
(...) No Brasil, o déficit (em transações correntes) vem crescendo de forma acelerada. Neste ano até julho chegou a US$ 19,512 bilhões (equivalente a 2,41% do PIB), cifra que representa 93% dos US$ 21 bilhões esperados pelo Banco Central para o ano. Os economistas do governo já vislumbram, porém, os primeiros sinais de acomodação. A projeção oficial indica que em agosto a conta ficou na casa de US$ 1 bilhão, abaixo dos US$ 2,111 bilhões observados em julho, e até o fim de 2008 não deverá ser superior a 1,5% do PIB.
"Talvez o mundo nunca tenha chegado tão próximo do abismo financeiro quanto na quarta e quinta-feiras da semana passada", comentou um funcionário do governo. "Estamos falando de uma crise sistêmica jamais vista", referendou um outro assessor da equipe econômica. Os clássicos instrumentos de política monetária geridos pelo Federal Reserve (Fed) - calibragem da taxa de juros e provisão de liquidez aos bancos - se mostraram absolutamente insuficientes para lidar com o problema, levando o governo americano a assumir a condução das eventuais saídas. Numa hora como essa, coube ao Departamento do Tesouro, através do secretário Henry Paulson, assumir a cena e colocar na mesa o dinheiro do contribuinte americano para salvar os bancos.
(...) O BC, porém, não pode ser visto como um substituto do mercado de crédito externo, num momento em que esse secou, até porque sua função é de ser emprestador de última instância em moeda local.
Comentário
Meses atrás escrevi aqui que duas coisas eram tão inevitáveis quanto a morte:
1. O déficit em transações correntes tornar-se uma ameaça à estabilidade brasileira.
2. Assim que esse quadro ficasse claro, os cabeçoes de planilha anunciarem que o problema foi o aumento dos gastos públicos. O óbvio e previsível Fábio Gimbiagi nunca me deixa errar sobre o comportamento desse tipo de economista.
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