O presidente Evo Morlaes esteve no Panamá por um dia, na sexta |
Numa rápida cerimônia no palácio presidencial Quemado, em La Paz, Morales disse: "É importante que um soldado da pátria assuma agora, temporariamente, o governo de Pando".
Segundo Morales, é "obrigação" dos governos "garantir a ordem e a disciplina". Na sexta-feira passada, o governo Morales decretou estado de sítio no departamento (Estado) de Pando, onde pelo menos 16 pessoas morreram a tiros, de acordo com informações oficiais.
O número de mortos ainda é incerto, mas o ministro de governo, Alfredo Rada, disse que poderia estar em torno de 30. Nas últimas horas, ele reiterou que 116 pessoas continuam desaparecidas.
O almirante Bandeiras, como Morales o chamou, assume no lugar do político Leopoldo Fernández, que está preso e é acusado pelo governo de ser o responsável pelo "massacre em Pando", como disse o presidente.
Diálogo
Bandeiras foi empossado no terceiro dia de diálogo entre governo e oposição, em Cochabamba, no centro do país.
Também participam das negociações o secretário geral da OEA (Organização de Estados Americanos), o chileno José Miguel Insulza, representantes das Nações Unidas e ainda "testemunhas", como definiu o governo, que são diplomatas do Brasil, do Chile, da Argentina e do Equador, além de representantes das Igrejas Católica e Metodista.
"Os últimos dias foram preocupantes, mas graças aos movimentos sociais e à ajuda internacional vamos superando as dificuldades. Esperamos que essa vivência (o diálogo) nos permita viver melhor", disse Morales, neste sábado.
A expectativa é de que as discussões deste sábado continuem em torno de duas das três mesas de diálogo formadas na sexta-feira: a primeira, sobre o Imposto Direto de Hidrocarbonetos (IDH) e a segunda sobre como incorporar as autonomias dos Estados na nova Constituição.
A terceira mesa sobre designação de autoridades para instituições que estão acéfalas ainda não começou, disse o vice-presidente Alvaro García Linera.
"É falso quando dizem que não se vai garantir as autonomias (dos Estados). Não só vamos permiti-las, como vamos melhorar este capítulo", afirmou Morales.
Atualmente, cinco dos nove Estados da Bolívia são governados pela oposição. Em quatro deles, os eleitores votaram no ano passado e neste ano pelas autonomias política, financeira e administrativa do governo central. São eles: Santa Cruz e Tarija, os mais ricos do país, e Beni e Pando, que estão entre os menos desenvolvidos.
Morales disse, mais de uma vez, que estas autonomias são "ilegais". As autonomias estão previstas, mas com outro conteúdo, na nova constituição do país, aprovada no fim do ano passado sem a presença da oposição.
Este assunto e, principalmente, a nova carta magna são os assuntos mais polêmicos das discussões em Cochabamba, de acordo com diferentes analistas.
Linera disse que o governo representa a maioria e por isso tem o apoio (popular) para implementar o plano oficial, e os governadores da oposição, disse, devem "acatar" as decisões que são melhores para o país.
Referendos
A nova crise na Bolívia se intensificou após o referendo realizado no dia 10 de agosto quando tanto Morales como os líderes da oposição foram ratificados no cargo.
O presidente recebeu 67% de apoio – mais que 10% do que teve nas urnas nas eleições de dezembro de 2005.
Diferentes pesquisas de opinião, como uma realizada pelo Pnud, indicaram que os bolivianos querem o diálogo entre governo e oposição.
"A Bolívia vive um parto doloroso que ainda vai demorar muito tempo", disse a analista política Erika Brockman, de La Paz.
"O mal menor é que a violência generalizada não ocorra na Bolívia", afirmou à rádio Fides, neste sábado.
"Essa é uma luta de classes. Foram anos e anos com a exclusão indígena e agora é evidente a resistência de alguns setores", afirmou à BBCBrasil o senador Antonio Peredo, do partido do governo MAS (Movimento ao Socialismo).
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