O Brasil se tornou protagonista na recomposição das forças da indústria de papel e celulose. A união anunciada esta semana entre Votorantim Celulose e Papel (VCP) e Aracruz, que fez surgir a maior produtora de celulose do mundo, deve acelerar o ritmo de ampliação da produção nacional, que chegará a 18 milhões de toneladas anuais em 2012. Graças a essa onda de investimentos, o Brasil deve ultrapassar a China e chegar à terceira posição no ranking de países produtores da matéria-prima.
A reportagem é de Marianna Aragão e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 20-09-2008.
Ao mesmo tempo, o País virou o alvo preferido de multinacionais do setor, que nos últimos anos estão levando suas fábricas de países do Hemisfério Norte para os do Sul. A sueco-finlandesa Stora Ensa, a portuguesa Portucel e os chineses da Asia Pulp & Paper (APP) são algumas das gigantes que avaliam empreendimentos no Brasil, segundo fontes ligadas às empresas.
Além de escassa, a madeira utilizada pelos grandes produtores na Europa, Estados Unidos e Canadá ficou mais cara. Em janeiro de 2009, a Rússia, uma das principais fornecedora da indústria européia, vai começar a sobretaxar as exportações desse insumo. “Eles não conseguem mais competir por causa do custo da fibra, muito maior nessas regiões”, explica Kurt Schaefer, vice-presidente da RISI, agência internacional de informação para indústria de produtos florestais.
O Brasil utiliza eucalipto na produção de celulose, que tem custo menor e cultivo mais rápido. “Com alta produtividade e boa oferta de celulose, o Brasil tem condições de abastecer os mercados que demandam o produto”, diz a presidente-executiva da Associação Brasileira de Papel e Celulose (Bracelpa), Elizabeth de Carvalhaes. Segundo ela, a demanda nos países emergentes levou ao aumento da demanda de celulose no mercado externo.
A sueco-finlandesa Stora Enso, uma das maiores do setor, com faturamento de US$ 11,8 bilhões, fechou quatro fábricas na Europa nos últimos dois anos. Agora, concentra seus esforços nos mercados emergentes, principalmente em países da América Latina e China. “A América do Sul se beneficia desse cenário”, diz o vice-presidente da subsidiária brasileira, Otávio Pontes.
No Brasil, a companhia está plantando uma base florestal de 13 mil hectares no Rio Grande do Sul para futuros empreendimentos industriais. “Temos estudos avançados para duplicar a capacidade de produção no País em dois anos”, diz. A companhia fabrica celulose no Brasil desde 2005, por meio da Veracel, uma joint venture com a Aracruz no sul da Bahia.
Segundo Pontes, além de alto custo de produção, as fábricas na Europa sofrem com a valorização da madeira. O insumo tem sido subsidiado na União Européia para uso na geração de biomassa. O uso dessa fonte energética cresceu por causa dos altos preços do petróleo e das metas para utilização de energias renováveis fixadas nos países europeus.
A gigante Asia Pulp & Paper (APP) montou um escritório em São Paulo para reforçar seus negócios no Brasil. Por enquanto, o objetivo da empresa, com fábricas na China e Indonésia, é ampliar as importações - até então, ela vendia irregularmente e em pequenas quantidades para o Brasil.
Mas a companhia não descarta a possibilidade de instalar uma fábrica de celulose no Brasil. “O Brasil é o grande fornecedor do insumo. Não tem quem possa batê-lo, pelo menos pelos próximos 15 a 20 anos”, diz o gerente-geral da subsidiária, Geraldo Ferreira.
Outra empresa que está de olho no potencial brasileiro é a portuguesa Portucel. A empresa já estaria negociando a compra de terras em Mato Grosso do Sul. A Secretaria do Desenvolvimento do Estado recebeu executivos da companhia há cerca de dois meses. Em agosto, a Portucel anunciou a instalação de duas fábricas de celulose, em Moçambique e no Uruguai.
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