Está em marcha o que o The New York Times chama de “a maior operação de resgate dos tempos modernos” que – como destaca – “pode redefinir o papel do Governo no mercado nos próximos anos”. A reportagem é de Bernardo Kliksberg, economista e assessor do PNUD, organismo da ONU, e publicada no Clarín, 24-09-2008. A tradução é do Cepat.
Segundo suas linhas gerais, o Estado norte-americano tomaria 700 bilhões de dólares de ativos “tóxicos” da banca, basicamente com fundos do contribuinte. Chega depois da quebra de dois dos cinco Bancos de Investimentos dos Estados Unidos mais importantes. Muitos deles tinham em seus balancetes enormes ativos, mas se perdeu o elemento central do capital social de uma sociedade, a confiança.
A necessidade de agir rapidamente superou – como ressaltou Ben Bernake, presidente do Federal Reserve – qualquer consideração ideológica. Só em 2008, 600 mil pessoas perderam seus empregos nos Estados Unidos. Os impactos nas economias européias, e agora também asiáticas, se sucedem.
A América Latina deveria tirar algumas lições destes acontecimentos tumultuosos que estão marcando a história. Parece hora de revisar “o disco rígido” de receitas econômicas infalíveis que predominaram na região nos anos 80 e 90 e resultaram no aumento do número de pobres de 137 para 200 milhões, de jovens marginalizados de tudo (25%), e dos níveis de desigualdade (atualmente, os piores do planeta).
A crise é de extrema complexidade, mas entre os destaques mais freqüentes, hoje, entre os observadores mais argutos, se encontram:
1. Houve um vazio muito importante de regulações. O New York Times escreve em um de seus editoriais: “Esta crise é o resultado da voluntária e sistemática falha do governo em regular e monitorar as atividades de banqueiros, prestamistas, fundos de investimento, seguradoras, e outros atores do mercado. Faziam apostas de pôquer muito altas com o sistema financeiro, sem a adequada transparência e supervisão”.
2. Fatores especulativos precipitaram a queda de algumas das principais instituições. O Controlador do Estado de Nova York, Thomas DiNapoli, disse o seguinte sobre as operações dos “short sellers” (operadores que fazem empréstimos de ações, vendem-nas, pressionando assim a queda de seus preços, para comprá-las na seqüência a preços deteriorados, e as devolvem aos seus proprietários ganhando a diferença): “Estas vendas especulativas pressionaram o nosso mercado acionário e ameaçam precipitar a nossa economia nacional”.
3. Retornou a discussão sobre os salários dos altos executivos. O várias vezes Prêmio Pulitzer, Nicholas Kristof, informa que três décadas atrás os executivos ganhavam nos Estados Unidos 30 a 40 vezes o que o trabalhador comum percebia. No ano passado, a diferença foi de 344 vezes. Kristof assinala que os contribuintes estão subsidiando com 20 bilhões de dólares anuais os supersalários. Warren Buffet, o investidor mais bem sucedido de Wall Street, afirma: “Para julgar se a América corporativa é séria sobre uma auto-reforma, a remuneração dos CEOS é o teste crucial”.
4. Muitos mitos sobre a possibilidade de prescindir do Estado caíram. A demanda por política pública foi muito forte, e ultrapassou toda a discussão ideológica. Na região haveria que reexaminar pontos como estes: a necessidade das regulações, as práticas especulativas, as altas desigualdades, o papel da política pública, e muitos outros subjacentes à crise. Também sair de uma vez por todas dos economicismos estreitos, e visualizar que componentes básicos do capital social como a confiança e a ética têm enorme peso sobre a economia.
Dever-se-ia ter em conta que os erros cometidos nestes campos não são meras questões acadêmicas, mas que são os consumidores, os pequenos acionistas, os pequenos e médios empresários, os agricultores, as classes médias e os trabalhadores, que devem arcar com eles, com graves riscos para os seus esforços realizados ao longo de anos.
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