"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, setembro 23, 2008

O Brasil e a crise: ‘otimismo que beira a irresponsabilidade’, diz Lessa

Instituto Humanitas Unisinos - 23/09/08

O economista Carlos Lessa, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), disse que embora a economia brasileira experimente um momento favorável, como não ocorria há muitos anos, o governo não pode cometer a irresponsabilidade de afirmar que o país está imune à atual crise financeira internacional.

A reportagem é de Alana Gandra e publicada na Agência Brasil, 22-09-2008.

“É verdade. O Brasil está hoje numa situação melhor do que esteve em outras crises. Também, alguma coisa nós tínhamos que ganhar com 25 anos de estagnação econômica. Estamos mais robusto um pouco, mas se não tomar cuidado a gente se enfraquece logo”, alertou.

De acordo com o economista, a crise internacional é o resultado de mais de 30 anos de expansão financeira “progressivamente desregulada”, com uma multiplicidade de ativos financeiros que não correspondem ao desenvolvimento da base produtiva.

“É o que nós chamamos de uma bolha. E a bolha, quando explode, deixa praticamente nada”, disse. Ele avalia que as conseqüências que isso terá para o Brasil estão condicionadas ao controle da crise financeira externa, que não gere uma depressão.

Lessa prevê que o crescimento da economia mundial vai cair, começando pelos Estados Unidos e depois a China, com rebatimento sobre o Brasil. “Mas, uma coisa é a crise mundial gerar um crescimento medíocre e outra coisa diferente é uma recessão mundial. Recessão é muito grave. Vamos torcer para que fique somente numa redução do crescimento”, disse.

Para o economista, essa queda do crescimento econômico terá reflexos diretamente nos preços dos produtos exportados pelo Brasil, com conseqüências sobre a receita cambial brasileira.

“Essas implicações financeiras serão piores ou não tão ruins, dependendo da política econômica que o governo federal vier a fazer. Eu estou muito espantado com os anúncios, quase que arrogantes, de que o Brasil está muito bem, que o Brasil tem como enfrentar a crise”.

Na avaliação de Lessa, “isso é de um otimismo que beira a irresponsabilidade, porque as nossas empresas que pegaram recursos fora não vão poder renovar esses recursos simplesmente porque a liquidez mundial cai violentamente”.

Ele avalia ainda que há uma grande fatia de capital especulativo que veio para o Brasil e que será puxado para fora, pressionando a taxa de câmbio. Com isso, segundo Lessa, o governo será obrigado a segurar o câmbio. “E para isso terá de fornecer dólares a essas saídas para o Brasil, contribuindo para reduzir as reservas internacionais”.

Lessa disse que vê com preocupação “praticamente nenhuma movimentação governamental para mudar a política econômica, para segurar o pior desse processo”.

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