Por João Carlos
Saiu o rascunho do projeto de lei que o Paulson vai enviar ao Congresso dos US. Pode ser lido em clique aqui , com alguns comentários adicionais do Mish.
Na minha humilde opinião:
1- o tesouro vai torrar US$ 700 bilhões;
2- não vai ser suficiente, portanto vai ter de torrar mais depois;
3- o limite do débito público dos EUA é estendido para acima de US$ 11,3 trilhões;
4- não tenham esperança que os títulos podres que vão ser comprados vão permitir alguma recuperação depois: há uma provisão no projeto de lei que torna o Paulson inimimputável por qualquer crime ligado à compra desse ativos financeiros e tal provisão não estaria lá se a intenção não fosse comprar títulos sem qualquer salvação por um preço bem acima do de mercado (provavelmente, pelo valor de face). Vai ser, descaradamente, transferência de riqueza do contribuinte para os banqueiros e acionistas. E essa riqueza não vai voltar.
A questão é saber por quanto tempo o investidor estrangeiro vai querer financiar essa zorra. De trilhão em trilhão a dívida vai se tornar impagável. O serviço da dívida dos EUA vai subir às nuvens logo logo.
A crise não acabou, talvez dê uma folga até o Buraco Negro ultrapassar os US$ 700 bilhões e o Tesouro ser forçado a torrar mais. No entanto, é bem possível que o buraco já tenha ultrapassado os US$ 700 bilhões e aí a folga vai ser bem curta.
A hegemonia do dólar nunca esteve tão frágil...
Por Andre Araujo
O debate econômico, interditado no Brasil pelos economistas-de-mercado que impõe como lógica excludente a ortodoxia monetarista que deriva para a hipocondria anti-inflacionaria, azedou depois da crise.
No período FHC havia um Ministro da Fazenda que entendia de economia e tinha peso político. Hoje a coisa piorou. O Ministro atual não consegue se contrapor ao Banco Central, algo que Malan tinha força para fazer e como conseqüência finge que manda sem mandar.
A mídia reflete essa situação confusa, com declarações e entrevistas que mais confundem do que esclarecem, sobre os efeitos da crise sobre o Brasil. Quais serão eles?
1.A atual crise é da economia financeira, que é a base da economia americana desde o fim da Guerra Civil. Na era das ferrovias, 1860-1890, os EUA já eram centrados na economia de papel, com os reis da bolsa, Jay Gould, Harriman. vistos como heróis.
2.Da crise de 1891 até a crise das poupança e empréstimos no governo Reagan, ocorreram sete grandes crises financeiras nos EUA, todas resolvidas pelo Estado.
3.A economia americana é muito flexível, rege rapidamente, o Governo e a cúpula do empresariado trabalham em conjunto, o poder político se confunde com o poder empresarial, salva-se o futuro da economia mas não se salvam todos os envolvidos. Lehman Bros. está em crise desde os anos 80, quando Peter Paterson, ex-Secretario do Comercio, assumiu como uma espécie de interventor. Já era uma firma doente há vinte anos.
3.Não há qualquer novidade na quebra de grandes casas financeiras. Nomes míticos, como Salomon Bros.desapareceram. Salomon era o principal dealer do Tesouro americano. Sumiu e os EUA continuam. De 1945 até hoje cerca de 60 grandes casas foram vendidas, incorporadas ou fechadas.
4.A vida empresarial americana é extremamente dinâmica, de 70 até hoje vários ciclos liquidaram com grandes pedaços da economia mas outros nasceram. O pais se recupera com uma facilidade que não é encontrada em nenhuma outra economia do mundo.
5.Desde o 1945 não há moeda reserva mundial alem do dólar. Continua assim hoje. O euro, o yen e a libra juntos não tem volume para essa função.
6.O Brasil adotou o modelo de mercado financeiro dos EUA. Hoje funciona como sucursal do mercado financeiro americano, é integrado nele. Os efeitos são positivos quando o vento é a favor e negativos nas tempestades. Quando Lula se queixou, foi um ingrato. O sucesso de seu governo deve-se ao modelo, na baixa não pode fingir que não tem nada com isso. O pacote é fechado, quem se globaliza o faz nas duas mãos.
7;A economia americana vai se recuperar rapidamente. o gasto do tesouro vai ser compatível com a economia americana, que já suportou gastos do mesmo porte na crise das poupança e empréstimo. Gasto muito maior está sendo absorvido na guerra do Iraque, segundo Stglitz, mais de 4 trilhões de dólares. A economia suporta isso e muito mais.
8.O maior efeito sobre o Brasil será nas linhas de crédito. Muitos projetos na área de energia, etanol, mineração, estão estruturados sobre captação financeira que era fácil e hoje não é mais. Pode haver problemas nessa área. O ingresso de capital estrangeiro para a bolsa vai cair mas para investimento direto deve se manter. A economia produtiva americana foi relativamente pouco afetada.
9.Aos que comparam a atual crise à grande Depressão, nada a ver. A Depressão causou danos infinitamente maiores na economia real, , entre 1929 e 1932 o PIB mundial caiu 42%, em 1930 o desemprego tinha aumentado em 50% em relação a 1929, e entre 30 e 32 o comércio mundial caiu 65%. Nada disso remotamente se prevê nessa crise.
10. Como todas as crises, trará efeitos políticos. Pode abater no vôo governantes que surfaram na onda da euforia anterior. Algumas economias emergentes podem ter problemas de quebra de curva de crescimento. As teses da blindagem dos emergentes são simplesmente ridículas, em um mundo compartimentado o efeito seria sentido como foi nas crises brasileiras de 81 e de 96 mas agora, com a plena globalização da economia brasileira, o efeito será profundo, é só esperar.
É claro que não adianta prevenir. Por um processo de defesa emocional, as pessoas tendem a acreditar que o mal não os atingirá, como em 39 a maioria da população da Europa acreditava que não haveria guerra. Dizem que o homem precisa ser otimista para sobreviver e tende a minimizar os desastres que se aproximam. Pode ser. Cabe à mídia econômica esclarecer.
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