A Monsanto anunciou ontem sua entrada no mercado de açúcar e etanol com a aquisição, por US$ 290 milhões (R$ 616 milhões), de duas das mais importantes empresas de biotecnologia do País, a Alellyx e a CanaVialis. Ambas pertenciam à Votorantim Novos Negócios, divisão de capital de risco do grupo Votorantim, e foram fundadas em 2002 e 2003.
A reportagem é de Mariana Barbosa e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 04-11-2008.
“A cana-de-açúcar está sendo eleita pela Monsanto com uma cultura global, ao lado de milho, soja e algodão”, afirmou André Dias, presidente da Monsanto do Brasil. Com o investimento, o Brasil se transforma em um centro de pesquisa mundial de cana para a Monsanto. “O Brasil terá um papel de destaque não só como gerador de tecnologia, mas também como usuário das tecnologias.” Dos 20,2 milhões de hectares dedicados à cana-de-açúcar no mundo, 6,8 milhões de hectares estão localizados no Brasil.
A multinacional estima que a contribuição efetiva das duas empresas para o seu faturamento no Brasil virá apenas em meados da próxima década. A Monsanto investe anualmente US$ 800 milhões em pesquisa e desenvolvimento em todo o mundo. Segundo Dias, ainda é cedo para dizer o quanto desses recursos será destinado à cana.
A aquisição, concluída na semana passada, aconteceu cerca de três semanas depois de o grupoVotorantim anunciar perdas de R$ 2,2 bilhões com operações de derivativos cambiais. As duas empresas possuem enorme potencial de gerar receitas, mas ainda estão em fase de demandar grandes investimentos em pesquisa. “É um pouco triste ver um filho indo embora, mas sempre foi a nossa intenção um dia vendê-las. A associação com a Monsanto permitirá às duas crescer mais rapidamente”, afirmou o diretor-executivo da Votorantim Novos Negócios, Fernando Reinach. Questionado, o executivo não quis relacionar a venda das empresas com as perdas com derivativos no grupo Votorantim. “Estamos negociando há seis ou oito meses. A data é pura coincidência.”
Até pouco tempo atrás, o setor sucroalcooleiro era a grande aposta dos investidores estrangeiros, de olho em alternativas de energia limpa e renovável. No entanto, com muitas usinas amargando perdas com operações de derivativos e a retração de demanda mundial, o preço dos ativos, em toda a cadeia, está em queda.
O grupo Votorantim não revela o quanto foi investido desde a criação das duas empresas. Maior empresa de melhoramento genético de cana-de-açúcar do mundo, a CanaVialis foi fundada em 2003 e planeja lançar seu primeiro produto comercial no ano que vem. Será uma cana de ciclo precoce, com mais sacarose (açúcar).
A Alellyx foi a primeira empresa fundada pela Votorantim Novos Negócios, em 2002, e é uma parceria com um grupo de biólogos moleculares que haviam trabalhado no seqüenciamento genético da bactéria Xyllela fastidiosa. Dentre os produtos que estão sendo desenvolvidos está uma cana com capacidade para aumentar em 80% a produção de etanol por hectare plantado, além de dois tipos de cana geneticamente modificada, uma com alto teor de sacarose e outra mais resistente à seca.
A Monstanto já havia firmado, no ano passado, uma parceria tecnológica com as duas empresas para desenvolver e comercializar uma variedade de cana com tolerância a herbicidas (o gene Roundup Ready) e outra resistente a insetos-praga (o gene Bt). Esta última deve levar de cinco a seis anos para se tornar comercial.
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