Enquanto Barack Obama e John McCain mantinham duros confrontos sobre seus respectivos programas econômicos, o Pentágono dirigiu, no domingo, um ataque no território sírio a oito quilômetros da fronteira com o Iraque, com um saldo de oito mortos. O ataque e as críticas que originaram na Síria foram um lembrete a mais da difícil situação internacional que o próximo presidente irá herdar.
A reportagem é de Ana Baron , do jornal argentino Clarín, 29-10-2008. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cenário não pode ser mais negativo. Inclui duas guerras que parecem não terminar nunca, a do Iraque e a do Afeganistão, em seu quinto e sétimo ano respectivamente; o desafio nuclear iraniano; a instabilidade no Paquistão; a nova ofensiva da Rússia; e o poder crescente da China. Soma-se a tudo isso a enorme deterioração da imagem dos Estados Unidos no exterior e a maneira pela qual a crise financeira internacional deixou em aberto a emergência de um novo mundo, em que Washington já não é capaz de controlar todas as coordenadas.
Qualquer que seja o candidato que ganhe as eleições, ele se verá obrigado a participar na luta que está se desenvolvendo atualmente atrás da cena para determinar quais são os países que irão participar na concepção de uma nova arquitetura financeira internacional. A globalização colocou em dúvida a capacidade do Grupo dos Sete.
“A natureza dessa crise é internacional e poderá ser resolvido só por meio de uma reforma do sistema financeiro internacional”, escreveu recentemente o editorialista do The Washington Post, Jim Hoagland. “O vencedor dessa eleição necessariamente terá que compartilhar a liderança global como nenhum outro presidente já fez desde a Segunda Guerra Mundial”.
Ambos os candidatos são conscientes desse novo desafio internacional, mas, separados por mais de duas gerações, Obama e McCain vêm de dois universos intelectuais totalmente diferentes.
Filho e neto de militares, o ex-veterano da guerra do Vietnã, John McCain, oscila entre os falcões neoconservadores que dominaram os dois governos de George Bush e os republicanos realistas que são mais internacionalistas. Durante a campanha eleitoral, adotou, no entanto, posições mais próximas às dos falcões.
Produto de uma das melhores universidades dos EUA, Harvard, e ativista político desde jovem, Obama propõe uma mudança para uma política que ponha o acento mais na diplomacia do que no poder militar. Mesmo que não descarte o uso da força, acredita na importância do diálogo e das instituições internacionais, como as Nações Unidas, na resolução dos conflitos internacionais.
Assim sendo, McCain considera que se deve terminar a guerra no Iraque com êxito e criticou virulentamente Obama por propor uma retirada dos soldados em 18 meses. Por sua parte, Obama argumento que é necessário concentrar toda a atenção sobre o Afeganistão. Com respeito ao Irã, Obama propõe um diálogo, enquanto McCain insiste em que se deve aplicar duras sanções para que o Teerã abandone o seu problema nuclear.
Com relação à Rússia, McCain insiste em que não quer reiniciar a Guerra Fria, mas defende um enfoque confrontativo que leve Moscou a práticas mais democráticas e menos intimidativas com respeito aos seus vizinhos. Obama disse que apoiará os vizinhos da Rússia, mas esclarecendo que isso será feito em uma frente em união com a Europa, o que significa um enfoque muito menos duro do que o de McCain.
Em nossa região, Obama quer flexibilizar o embargo estabelecido contra Cuba, em nível das viagens e das remessas. Também propôs sentar-se para dialogar com os irmãos Castro, o que provocou uma virulenta reação por parte de McCain. De fato, a política de McCain com Cuba não difere muito da de Bush.
Em nível dos tratados de livre comércio, acontece algo parecido. McCain, um grande defensor do livre comércio, representa a continuidade do que o governo Bush defende. Obama, por sua parte, quer renegociar o Tratado de Livre Comércio (Nafta) com o México para proteger os direitos dos trabalhadores e do meio ambiente.
Obama se opôs a acordos comerciais com a Colômbia e com a Coréia do Sul por questões similares.
Quase 370 acadêmicos pedem ao democrata que se aproxime da América Latina
Antecipando uma vitória democrata nas eleições do dia 04 de novembro, um grupo de 368 acadêmicos especializados em América Latina enviou uma carta pedindo ao candidato Barack Obama que se converta em sócio e não em adversário da região.
Os assinantes pedem-lhe que compreenda o ímpeto atual para a mudança progressiva em muitos países e enfatizam “a rejeição do modelo de crescimento econômico que se impor a vários países desde o início da década de 80, que concentrou a riqueza, apoiou-se de forma falida em forças de mercado irrestritas para resolver problemas sociais profundos e socavou o bem-estar”.
Muitos dos que assinam o documento são membros da influente Associação de Estudos Latino-Americanos. Entre a longa lista, figuram Ariel Dorfman, Eric Hershberg, presidente da Associação, e Jean Franco, professor emérito da Universidade de Columbia.
A carta assinala que “os movimentos pela mudança na América Latina revelam um crescimento significativo da participação de trabalhadores, campesinos, mulheres e descendentes de africanos ou indígenas. Esses movimentos estão chegando ao poder país após país. Não são nem marionetes, nem estão cegos por fanatismos e ideologias, como foram caracterizados algumas vezes. Pelo contrário, merecem nosso respeito, amizade e apoio”.
Os latino-americanos, continua, “viram com freqüência os EUA não como amigos, mas como opressor, garantidor de um sistema econômico que trabalha contra eles e não para eles (...). A administração Bush tornou as coisas muito piores, e o prestígio do país na região está em seu nível histórico mais baixo. A tendência de Washington de lutar contra a esperança e a mudança foi especialmente proeminente em sua recente reação aos governos eleitos democraticamente na Venezuela e na Bolívia”.
O texto agrega que restam muitos desafios na região. “Cuba começou um processo de transição que deve ser apoiado de forma positiva, como por meio do diálogo que o senhor propõe”.
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