Dois ex-embaixadores brasileiros em Washington, os diplomatas Rubens Ricupero e Rubens Barbosa, são realistas em relação ao presidente eleito, Barack Obama, o que na prática significa que nada ou muito pouco mudará para o Brasil.
A reportagem é de Eduardo Nunomura e José Maria Mayrink e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 05-11-2008.
Com uma pauta prioritariamente econômica, o chefe da maior potência do mundo não terá tempo de cuidar de temas caros aos Estados Unidos, como a guerra ao terror e o Oriente Médio. Durante a campanha que opôs Barack Obama e John McCain, já estava claro que a América Latina continuará fora do radar de preocupações.
“Na agenda prioritária americana, a nossa capacidade de influir é pequena”, afirma Ricupero, que foi embaixador entre 1991 e 1993. “Mais importante do que perguntar o que fará o novo presidente é saber qual será a posição do governo brasileiro em relação ao governo norte-americano, pois tudo indica que, da parte de Washington, não vai mudar muita coisa”, disse Barbosa, que ocupou o mesmo cargo entre 1999 e 2004.
Desde o fim da Guerra Fria, os americanos vêem a América Latina a partir dos acordos de livre comércio, do combate ao narcotráfico e da luta contra a migração, sustenta Ricupero.
“Na questão do comércio, os produtos brasileiros que têm problema nos EUA, o suco de laranja, o etanol, o açúcar, o tabaco, enfrentam lobbies muito estruturados no Congresso e (o novo presidente, Barack Obama) não terá qualquer ingerência.”
Barbosa acrescenta: “É possível que esse contencioso aumente, com a imposição de novas barreiras comerciais, por causa da crise financeira e do agravamento do problema do desemprego.”
Ex-ministro da Fazenda, Ricupero ressalta que o primeiro grande teste para Obama será já no dia 15, na reunião em Washington com o G-20.
Para Barbosa, o fato de a América Latina ter baixa prioridade na política externa americana favorece o Brasil. “É preciso saber o que vamos querer agora, pois nos últimos anos, quando os Estados Unidos tiveram crescimento de 3% a 3,5% ao ano, o Brasil perdeu uma boa fatia do mercado americano”, afirma.
Presidente do Conselho de Relações Internacionais da Federação das Indústrias de São Paulo, Barbosa diz que o Brasil deu prioridade às relações Sul-Sul. Em sua opinião, o País deveria reexaminar o tipo de relações que quer manter com Estados Unidos e Europa. “Não sei o que vai acontecer com o futuro governo dos Estados Unidos, se houver desdobramento do que Celso Amorim declarou após sua visita ao Irã.”
O chanceler defendeu, em Genebra, relações “normais e boas” com Teerã. O governo iraniano tem sido atacado nos Estados Unidos. Por outro lado, ele acredita que o Brasil pode ajudar em problemas como o embargo econômico a Cuba. “Obama não vai suspender o embargo, assim como John McCain não tomaria essa medida, mas poderá facilitar viagens e remessa de divisas para Cuba.”
SIMBOLISMO
Ricupero, que declara que teria votado em Obama se fosse americano, traça um paralelo entre o democrata e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lembrando do simbolismo que representou a ascensão de um ex-metalúrgico à Presidência.
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